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Ter urticária é ter alergia na pele para sempre?

publicado em 29 Nov. 2023

A urticária é uma patologia cutânea comum que afeta aproximadamente 20 por cento da população geral. A lesão típica é uma pápula avermelhada na pele, que provoca muita comichão, e que desaparece em menos de 24 horas. Podem surgir várias lesões simultaneamente, e, após o seu desaparecimento as lesões podem reaparecer rapidamente.

 

A urticária é por vezes acompanhada de angioedema, um inchaço mais profundo na pele, que persistente mais tempo, causa sensação de ardor ou dor, e atinge habitualmente os lábios, as pálpebras, a região genital e as extremidades. O diagnóstico da urticária é clínico, faz-se com base na existência de lesões típicas.

 

Uma causa presuntiva, como a alergia a um medicamento, a um alimento, ou a uma picada de inseto, pode ser identificável num doente com urticária de início recente, no entanto, num número considerável de vezes a causa não é identificada.

Urticária aguda

A urticária aguda, a apresentação mais frequente, tem resolução em menos de 6 semanas após o aparecimento das primeiras lesões. Pode surgir durante um processo infecioso, e ser até erradamente interpretada como uma alergia medicamentosa no contexto terapêutico da infeção. Pode também ser a apresentação de uma reação alérgica (medicamentosa, alimentar, de contacto cutâneo, entre outras), e neste caso o agente implicado é habitualmente identificado pelo doente. Na maioria das vezes a urticária aguda não implica realização de estudo, mas a referenciação para a Imunoalergologia deve ser realizada no caso de uma suspeita alérgica.

Urticária crónica

A urticária crónica implica a persistência do quadro para além das 6 semanas, e apresenta uma duração de 1 a 5 anos na maioria dos casos. Pode surgir de forma espontânea, e em 10% dos doentes o angioedema é a única manifestação da doença. Pode ainda surgir de forma indutível, e as lesões surgem associadas a um estímulo, como por exemplo o frio ou o calor, a pressão, o esforço físico, entre outros. A história clínica é orientativa do diagnóstico, e existem testes que ajudam a estabelecer a causalidade. Assim, a urticária crónica deve ser orientada para consulta, para realização do estudo atualmente recomendando, e para correta orientação terapêutica.

 

O tratamento da urticária tem como papel fundamental o controlo da doença, e como principal objetivo a qualidade de vida do doente, dado a inexistência, de momento, de um tratamento curativo. Não existem, atualmente, biomarcadores que permitam inferir com certeza a duração da doença, a sua intensidade, ou a resposta ao tratamento, no entanto estudos recentes evidenciam que doentes com angioedema associado, com queixas mais intensas, e com determinadas alterações analíticas, apresentam doença de maior duração e com menos resposta ao tratamento.

 

A maioria dos doentes apresenta bom controlo das queixas com utilização de anti-histamínicos, e a corticoterapia não é recomendada para controlo da doença. Existem no entanto algumas recomendações a ter em conta em relação aos anti-histamínicos, que são devidamente explicadas na consulta. Os doentes que não apresentam controlo da doença com anti-histamínicos têm outras opções terapêuticas, como a utilização de terapêutica biológica com excelente resposta, e devem ser orientados em consulta de Imunoalergologia e/ou Dermatologia, em ambiente hospitalar.

 

Portanto na maioria das vezes a urticária não é uma alergia, nem é para sempre, mas é uma patologia com bom prognóstico e, se corretamente orientada, rapidamente controlada.