Preparar a parentalidade passa por antecipar e criar expectativas durante a gravidez.
O processo de se tornarem pai e mãe, suplanta em muito as questões biológicas da gravidez. O bebé imaginário parental nasce muito antes da fecundação. Inicia-se com o desejo, a vontade de ter um filho e, aqui, surge a esperança e a preparação da transição para a parentalidade.
Quando materializada num teste de gravidez confirmatório, “nasce” um pai e uma mãe. Irrompem-se emoções quase que incompatíveis, entre felicidade e receio…tudo se altera! Inicia-se uma nova história, que se pressupõe feliz à volta do nascimento.
Com o desenvolvimento da medicina obstétrica, das tecnologias de diagnóstico e tratamentos existentes, tornou-se quase certo para os futuros pais, o nascimento e a certeza de um filho saudável nos braços, no colo.
A relação diádica (mãe-bebé/pai-bebé) inicia-se quando é reconhecida a gravidez. É criado um vínculo afetivo, ainda no meio intrauterino. E, por esta razão, quando este vínculo é interrompido de forma abrupta, dá-se início a um sofrimento desmedido.
A proximidade da morte em qualquer momento do ciclo vital expõe a fragilidade do ser humano. Se falar de morte já é difícil, imaginem passar por esta perda, num momento em que era para ser de VIDA!
A perda gestacional pode constituir um acontecimento traumático e devastador pela sua imprevisibilidade e dor emocional negligenciada. Esta, pode acontecer de forma súbita, antes de serem atingidas as vinte semanas de gestação (aborto espontâneo), ou, após as vinte semanas de gestação (ainda no útero) e, ainda, durante o parto (morte fetal).
Qualquer que seja o tempo de gestação, é “imposto” aos pais que lidem com esta perda. Ao casal é aconselhado esquecer, seguir em frente e tentar novamente. Como se existisse algo capaz de apagar os afetos e a sensação de um colo vazio. Um vazio deixado por um filho que se desejou, imaginou, mas, ainda assim, se perdeu. E é aqui, que a Psicologia pode e deve intervir!
Ao processo de luto que advém a esta perda, junta-se a necessidade de promoção de aceitação e devida expressão emocional desta dor. Não é de todo simples, integrar e aceitar este acontecimento como “normal”. O casal passa por uma dor que não é validada nem compreendida por terceiros, por não ser visível. É uma dor silenciada, um luto invisível. Falamos de um bebé que só existe no imaginário. Não existem evidências físicas, nem movimentos fetais que possam ser recordados (perdas precoces).
São várias as perdas possíveis após uma perda gestacional. Falamos de uma DOR diferente! Um vazio do papel parental que já tinham criado para si, ao longo da gestação (“Sou Mãe/Pai”), a desilusão sentida nas expectativas de continuidade geracional, a perda de um sonho. São desejos e fantasias que se perdem, pelo menos naquele preciso momento, é um luto vivido na insatisfação de algo que não foi concluído!