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Disfagia: um problema de saúde pública subestimado

publicado em 19 Mar. 2025

O que é a Disfagia?

A disfagia é a incapacidade ou dificuldade em engolir alimentos, líquidos ou saliva, podendo comprometer a segurança e a eficiência da ingestão alimentar.

 

Esta condição pode ser classificada em dois tipos principais. A disfagia orofaríngea está associada a dificuldades na fase oral e faríngea da deglutição e está frequentemente relacionada com doenças neurológicas como Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Doença de Parkinson. Já a disfagia esofágica ocorre devido a alterações estruturais ou funcionais do esófago, sendo comum em casos de refluxo gastroesofágico ou estenoses esofágicas.

 

A disfagia pode resultar de diversas condições médicas, incluindo:

  • doenças neurológicas como AVC, Parkinson e Esclerose Lateral Amiotrófica;
  • alterações estruturais, como cancro da cabeça e pescoço e estenoses esofágicas;
  • doenças musculares, como miopatias e distrofia muscular;
  • processos inflamatórios, como esofagite e laringite crónica.

Sintomas

Os sintomas variam conforme a gravidade e a causa da disfagia, podendo incluir tosse ou engasgo frequente durante as refeições, sensação de alimento preso na garganta, regurgitação nasal ou oral, perda de peso involuntária e desnutrição, além de pneumonias de aspiração devido à entrada de alimentos ou líquidos nos pulmões.

 

Se não tratada, a disfagia pode levar a complicações graves, comprometendo a qualidade de vida dos doentes.

Diagnóstico

O diagnóstico da disfagia deve ser multidisciplinar e envolver diferentes métodos de avaliação. A avaliação clínica, realizada por um terapeuta da fala, inclui a observação da deglutição e a aplicação de testes específicos. A videofluoroscopia da deglutição (VFD) é um exame radiológico que permite visualizar o trajeto do bolo alimentar, enquanto a nasofibrolaringoscopia (FEES) é um exame endoscópico utilizado para avaliar a funcionalidade da deglutição em tempo real.

Tratamento

O tratamento da disfagia depende da sua causa e gravidade, podendo incluir:

  • terapia da fala, com exercícios específicos para fortalecer os músculos da deglutição e melhorar a coordenação;
  • adaptação da dieta, com o uso de texturas modificadas e espessantes conforme o International Dysphagia Diet Standardisation Initiative (IDDSI);
  • intervenção médica e cirúrgica, como dilatações esofágicas, tratamento da doença de base e colocação de sonda alimentar em casos graves.

Prevenção

Embora nem sempre seja possível prevenir a disfagia, algumas estratégias podem reduzir o risco de complicações, como a avaliação precoce de doentes de risco, por exemplo, após um AVC; a adaptação da alimentação e posturas seguras durante as refeições; o treino muscular preventivo para doentes com patologias neurodegenerativas; e a promoção da hidratação e nutrição adequadas.

A disfagia é um problema de saúde pública frequentemente negligenciado, mas com um impacto significativo na qualidade de vida dos indivíduos afetados. O seu diagnóstico e tratamento precoces são essenciais para prevenir complicações e melhorar os resultados clínicos. Uma abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos, terapeutas da fala e nutricionistas, é fundamental para uma gestão eficaz desta condição.

Bibliografia
Clavé, P., & Shaker, R. (2015). Dysphagia: Current reality and scope of the problem. Nature Reviews Gastroenterology & Hepatology, 12(5), 259-270.
IDDSI. (2019). International Dysphagia Diet Standardisation Initiative.
Martino, R., et al. (2005). Dysphagia after stroke: Incidence, diagnosis, and pulmonary complications. Stroke, 36(12), 2756-2763.
Rommel, N., & Hamdy, S. (2016). Oropharyngeal dysphagia and aging. Aging Research Reviews, 24, 42-50.