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Será o pensamento positivo a solução para todos os problemas?

publicado em 18 Jan. 2024

A resposta imediata a esta pergunta é: claro que NÃO! Mas…

 

Comecemos por esclarecer que quando nos referimos a pensamento positivo ou emoções positivas ou até de Psicologia Positiva, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, não falamos de uma visão iludida, fantasiosa ou desligada da realidade em que se espera apenas o lado bom das coisas, sem dor, sofrimento ou desafios, mas sim de um maior equilíbrio entre o peso e importância que damos às experiências negativas e positivas. Por outras palavras, a Psicologia Positiva não recusa a existência de experiências dolorosas, mas propõe um foco maior em aspetos como a resiliência, a procura ativa do bem-estar, o treino das emoções positivas e uma relação com a busca pela felicidade mais serena e flexível.

 

Dito isto, os estudos mostram um impacto significativo no bem-estar, saúde mental e felicidade da prática de uma visão positiva, com esperança e entusiasmo pela vida, incluindo pelos desafios. Neste sentido, a Psicologia Positiva, mais do que tratar ou prevenir a doença, procura investigar e melhor compreender que aspetos positivos do ser humano podem tornar a vida das pessoas mais gratificante. Retomando o conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde, Seligman (2011) diz que não basta ajudar as pessoas a superarem a sua tristeza, ansiedade ou raiva, pois a saúde não é somente a ausência da doença. Fazer isso não “tornaria” a pessoa em alguém feliz, mas em alguém vazio. Isso porque a capacidade de sentir emoções positivas, de se envolver com as pessoas de quem gosta, de ter sentido na vida, de alcançar seus objetivos profissionais e pessoais e de manter bons relacionamentos é totalmente diferente de não estar deprimido, ansioso ou com raiva.

 

Por tudo isto, o conceito de resiliência assume grande importância pois indica que, não sendo invulneráveis, podemos trabalhar a ideia de que “a dor terá impacto em mim, mas não me destruirá”. Podemos tirar partido dessa dor e consequente aprendizagem, mas também de características como sociabilidade, criatividade na resolução de problemas ou autonomia, não esquecendo o facto de que o treino da resiliência tornar-nos-á mais resilientes. E como trabalhar a resiliência? Atribuindo sentido à adversidade, olhando de forma positiva (com esperança e otimismo) para os desafios, trabalhando a flexibilidade e a capacidade de negociação, ou ainda procurando colaboração para a resolução de problemas, por exemplo.

 

Sabemos também que as emoções positivas, como o amor, a alegria, a esperança, a felicidade, o otimismo, o perdão ou até encontrarmos o (nosso) sentido da vida têm um papel fundamental no bem-estar, felicidade ou saúde mental e, em última análise numa vivência da realidade com maior satisfação e sensação de preenchimento.

 

Mas como poderemos encontrar a tão desejada felicidade? Conceito sem definição objetiva ou encerrada, a ideia de felicidade depende de pessoa para pessoa e até de momento para momento. O que é felicidade para mim hoje pode não ser igual ao que era há 2 anos ou daqui a 5 anos. E, naturalmente, o que promove sentimentos positivos e sensação de felicidade em alguma pessoa não significará o mesmo para outra. Ainda assim parecem existir pontos em comum com o que falámos anteriormente. Talvez possamos orientar a busca da felicidade: a) através das emoções positivas sobre o passado (gratidão/perdão) e sobre o futuro (esperança/otimismo), apreciando as dádivas do dia-a-dia; ou b) através do treino de forças de carácter como sentido de humor, perseverança, apreciação da beleza, etc., deixando-nos envolver pelo momento presente; ou ainda c) através de uma ligação forte com algo para além de nós mesmos, como conhecimento, família, justiça, espiritualidade, etc.

 

Por tudo isto importa novamente lembrar que o facto de dizer que está tudo bem quando não está não basta para que tudo se resolva. No entanto, a abordagem positiva relembra-nos da importância da capacidade que cada um de nós tem de sentir dor sem quebrar, de agir para ultrapassar obstáculos, de nos relacionarmos com os outros, de aprender e melhorar continuamente e, acima de tudo, da capacidade de escolher uma visão compassiva e esperançosa da vida.