Protocolo de Avaliação cardíaca in utero
As Cardiopatias Congénitas são as malformações congénitas mais frequentes, ocorrendo em 1% das gestações na população em geral. Contudo, em algumas situações clínicas maternas ou fetais, o risco de patologia cardíaca congénita é superior.
A avaliação cardíaca in utero por Ecocardiograma Fetal permite o diagnóstico de cardiopatias congénitas major, que se associam a elevada morbimortalidade. Não obstante, nem todas as cardiopatias congénitas são passíveis de diagnóstico na vida fetal.
O diagnóstico in utero de uma cardiopatia congénita permite o aconselhamento pré-natal dos pais relativamente à patologia cardíaca, terapêutica e prognóstico a longo-prazo; auxilia a sua decisão informada de continuar (ou não) a gravidez, bem como, permite programar o local do parto e melhorar os cuidados ao recém-nascido após o nascimento, evitando complicações multiorgânicas que possam resultar em sequelas para a toda a vida
Indicação para realização de Ecocardiograma Fetal
Fatores maternos
- História familiar de cardiopatia congénita (familiares de 1º e 2º grau)
- História familiar de síndromes ou cromossomopatia associados a cardiopatia congénita
- Diabetes Mellitus prévia a gravidez ou diagnosticada no 1º trimestre, Diabetes Gestacional se mau controlo glicémico (HbA1C > 6%)
- Fenilcetonúria
- Lúpus ou Síndrome de Sjogren se anticorpos anti-SSA e anti-SSB (ou filho anterior com bloqueio auriculoventricular completo ou Lúpus neonatal)
- Infeções víricas durante a gestação (rubéola, citomegalovírus, toxoplasma, parvovírus B19, vírus coxsackie)
- Exposição a substâncias teratogénicas: lítio, isotretinoína, esteróides, anticonvulsivantes, ácido retinóico, inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA), inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), entre outros …
- Ingestão de anti-inflamatórios não-esteróides (AINE’s) no 3º trimestre
- Procriação medicamente assistida (FIV e ICSI)
Fatores fetais
- Suspeita de cardiopatia congénita durante a ecografia obstétrica
- Arritmia fetal
- Marcador ecográfico de cardiopatia congénita no 1º trimestre
- Malformação congénita extra-cardíaca
- Aneuploidias ou alterações genéticas/cromossómicas
- Derrame pericárdico ou pleural
- Hidrópsia fetal não-imune
- Gestação gemelar monocoriónica
- Outros fatores: agenesia do Ductus Venosus, tumores vasculares volumosos, fístulas arteriovenosas, síndrome de transfusão feto-fetal, anemia fetal, …
- Dificuldade técnica na avaliação cardíaca durante ecografia obstétrica
O Ecocardiograma Fetal é idealmente realizado entre as 20 e 24 semanas de gestação. Não obstante, em algumas situações clínicas pode ser efetuado a partir das 12 semanas de gestação, contudo, esta avaliação carece sempre de repetição do Ecocardiograma Fetal entre as 20-24 semanas. Adicionalmente, nas situações de cardiopatia congénita com risco de evolução durante a gestação poderá ser necessária uma reavaliação no 3º trimestre.