As doenças neurológicas são, atualmente, a principal causa de incapacidade a nível mundial, estando a enxaqueca em 2ª lugar nesta lista, à frente de doenças como a demência e só ultrapassada pelo AVC.
Estima-se que a enxaqueca atinge cerca de 2 milhões de Portugueses, maioritariamente adultos em idade laboral. No entanto, é uma doença frequentemente desvalorizada, sendo frequente os doentes descreverem incompreensão pela entidade patronal e familiares próximos.
A enxaqueca é uma dor de cabeça com intensidade moderada a grave e com características particulares, frequentemente unilateral, pulsátil, associada a enjoo (frequentemente intenso e com vómitos), em que a luz e o ruído são muito difíceis de tolerar e os movimentos aumentam a intensidade da dor. Provoca uma forte incapacidade, ou mesmo impossibilidade de fazer as atividades da vida diária. O diagnóstico implica a integração de dados da história clínica, exame neurológico e se necessário exames auxiliares de diagnóstico, TAC ou Ressonância Magnética cerebral.
O tratamento da enxaqueca depende da frequência das crises e da resposta ao tratamento das mesmas. Infelizmente muitos doentes respondem mal aos medicamentos usados nas crises de enxaqueca, mantendo dor de cabeça incapacitante horas ou até dias, não sendo rara a necessidade de ir ao Serviço de Urgência. O tratamento profilático, é habitualmente aconselhado pelo Neurologista quando há crises muito frequentes, com o objetivo de diminuir o número de crises por mês. No entanto, os efeitos laterais moderados a graves são frequentes, provocando abandono do tratamento.
Os anticorpos monoclonais que bloqueiam o recetor relacionado com o gene da calcitonina, que se pensa estar implicado no desencadear das crises de enxaqueca, são uma nova classe de fármacos, criados especificamente para o tratamento da enxaqueca. O erenumab já foi aprovado nos EUA pela FDA (Food & Drug Administration) e na Europa pela EMA (European Medicines Agency). Demonstrou eficácia na enxaqueca, com um perfil de efeitos laterais moderados a ligeiros. Está indicado para o tratamento profilático da enxaqueca em adultos, com pelo menos 4 dias de enxaqueca por mês. O tratamento é feito de 4 em 4 semanas, podendo ser autoadministrado, após ensino e treino. É um tratamento subcutâneo, com recurso a uma caneta, semelhante à usada pelos diabéticos, que fazem insulina.
Em Portugal, o erenumab (com o nome comercial aimovig®) está a aguardar parecer relativo à sua comparticipação. Como Neurologista, espero em breve poder prescrevê-lo, porque na prática clínica, a enxaqueca não controlada ou com intolerância aos fármacos atualmente disponíveis, é uma realidade muito frequente.