Skip to main content

5 Mitos Sobre a Gaguez Infantil

publicado em 22 Out. 2025

A gaguez é uma perturbação da fluência da fala que pode surgir na infância caraterizada por disfluências atípicas no discurso – como repetição de sons e sílabas, prolongamentos e/ou bloqueios e que levanta muitas dúvidas aos cuidadores. À sua volta persistem vários mitos que, em vez de ajudar, atrasam a procura de apoio especializado e aumentam a ansiedade de pais e filhos.

Mito 1: “A gaguez é normal na primeira infância, passa sozinha, é só esperar.”

Falso.

Em alguns casos, algumas crianças apresentam disfluências típicas da fala durante a fase do desenvolvimento da linguagem, como reformulações, hesitações e pausas, que fazem parte do desenvolvimento. No entanto, quando estamos perante comportamentos característicos de gaguez — como repetições frequentes de sons ou sílabas, bloqueios ou prolongamentos — já não se trata de um processo transitório. Nestes casos, podem ainda surgir comportamentos secundários de fuga como piscar de olhos, movimentos da cabeça, tensão no rosto, batidas do pé ou de evitamento como utilizar frases mais curtas ou pedir a alguém para falar por si. Se não houver intervenção especializada no tempo devido, estes comportamentos têm maior probabilidade de se intensificar com o tempo, tornando a gaguez mais resistente à mudança e aumentando o impacto emocional e social na vida da criança. A intervenção precoce permite não só melhorar a fluência, mas também prevenir o desenvolvimento desses comportamentos associados.

Mito 2: “Não se deve falar da gaguez com a criança.”

Falso.

 

Durante muito tempo acreditou-se que falar da gaguez poderia “chamar a atenção para o problema e piorar a situação”. As crianças têm cada vez mais consciência das suas dificuldades e, quando os adultos evitam o tema, interpretam o silêncio como algo negativo ou como um sinal de que há “algo errado” com elas. Esta perceção aumenta a ansiedade, o isolamento e, em muitos casos, os comportamentos de fuga e evitamento da fala. Falar sobre a gaguez de forma natural, aberta e tranquila ajuda a criança a compreender o que está a acontecer com a sua fala e a sentir-se apoiada. Além disso, permite que desenvolva uma relação mais saudável em relação à sua fala, reduzindo a frustração, a culpa e vergonha. O terapeuta da fala é o profissional que pode orientar os pais sobre como abordar o tema de forma adequada: com naturalidade e valorizando sempre o conteúdo do que a criança diz em detrimento da forma como o faz, sem evidenciar a gaguez como sendo um “problema grave”.

Mito 3: “A culpa é dos pais.”

Falso.

 

A gaguez não é causada pelo estilo parental, nem é o resultado de comportamentos como corrigir ou exigir mais da criança. Existe, muitas vezes, uma predisposição genética e
neurológica, relacionada com diferenças na forma como o cérebro processa a linguagem e coordena os movimentos da fala. Além disso, fatores de desenvolvimento linguístico e motor podem aumentar a probabilidade do seu aparecimento. Criar um ambiente comunicativo calmo, dar tempo à criança para se expressar, ouvir com interesse e valorizar o que ela diz são atitudes que contribuem para que a gaguez tenha menor impacto no dia a dia e no bem-estar emocional.

Mito 4: “Deve-se corrigir a criança quando gagueja.”

Falso.

 

Muitos pais, com a melhor das intenções, tentam ajudar dizendo coisas como “tem calma”, “respira fundo antes de falares” ou completando as palavras da criança. No entanto, estas correções aumentam a pressão comunicativa e fazem com que a criança se sinta observada e avaliada e frustrada por não conseguir transmitir o que pretende no timing esperado, o que aumenta a probabilidade de agravar a gaguez.

 

O mais eficaz é dar tempo para que a criança conclua a sua frase no seu ritmo, manter contacto visual e mostrar interesse pelo conteúdo da mensagem, em vez de se focar na forma como as palavras estão a sair (muitas vezes com bloqueios, repetições e prolongamentos com diferentes durações). Esta postura transmite segurança e ajuda a reduzir a ansiedade associada à fala.

Mito 5: “Não há nada a fazer.”

Falso.

 

Durante muitos anos acreditou-se que a gaguez era um problema sem solução e que apenas restava aprender a viver com ela. Hoje sabemos que isso não corresponde à realidade, principalmente em idades mais precoces.

 

Existem programas terapêuticos específicos, adaptados à idade e às necessidades individuais de cada criança e de cada família. Em idade pré-escolar e escolar podem ser utilizadas abordagens de reestruturação da fala e técnicas comportamentais que ajudam a reduzir a frequência e a gravidade da gaguez, assim como os comportamentos de fuga e evitamento. Além de melhorar a fluência, a intervenção precoce e especializada atua também ao nível do impacto emocional e social, prevenindo sentimentos de frustração, baixa autoestima e evitamento de situações comunicativas. Segundo a comunidade científica, quanto mais cedo se inicia o acompanhamento, maiores são as probabilidades de sucesso e menor o risco de a gaguez se tornar persistente na idade adulta.

A Verdade que Importa

A gaguez não é uma etapa obrigatória do desenvolvimento. Identificar sinais de alerta, desfazer mitos e procurar ajuda especializada são passos fundamentais para apoiar a criança e promover uma comunicação mais confiante e saudável.