A infeção das estruturas internas do dente (polpa e canais radiculares), quando não controlada, provoca uma reação inflamatória nos tecidos em torno da raiz dentária, aquilo a que se chama Abcesso Periapical.
Dependendo da intensidade e da duração dos sintomas, o abcesso pode ser diagnosticado como Agudo ou Crónico. O processo de formação de um Abcesso Crónico é mais lento e habitualmente isento de sintomatologia. Já o Abcesso Apical Agudo (AAA) é uma das condições infeciosas mais comuns em Medicina Dentária, levando quase sempre a episódios de urgência, uma vez que provoca dor intensa e alteração do aspeto facial. Caracteriza-se por um rápido aparecimento e ocorre quando a infeção se alastra do interior da raiz para os tecidos periapicais, seguindo-se a formação de “pus” – líquido inflamatório decorrente da ação do sistema imunitário – nessa região.
Causas
O processo infecioso resulta da progressão de cárie dentária, trauma (fratura ou desgaste dentário) e muitas vezes do insucesso das endodontias (comumente designadas por “desvitalizações”). Não obstante, o fracasso de um tratamento endodôntico tende a ser cada vez menor devido ao avanço do conhecimento científico, tecnologia e materiais utilizados nesta área.
Diagnóstico
O diagnóstico do AAA é feito através da observação clínica por parte do Médico Dentista e da análise dos sinais e sintomas. De entre estes, destacam-se: dor intensa, persistente e latejante, inchaço do rosto, aumento da sensibilidade (frio, calor e mastigação), aumento da mobilidade dentária e febre. A avaliação radiográfica pode auxiliar no diagnóstico do AAA, muito embora seja mais utilizada em casos crónicos.
Tratamento
Em primeiro lugar, importa assegurar o controlo da dor e da infeção através da prescrição de antibiótico, anti-inflamatório e analgésico. Posteriormente, e uma vez controlada a sintomatologia, inicia-se o processo de tratamento ou retratamento endodôntico, isto é, a limpeza, desinfeção e preenchimento dos canais radiculares, de forma a garantir o desaparecimento da lesão e a recuperação do dente. Em alguns casos, a drenagem (esvaziamento) do abcesso pode ser necessária antes de ser iniciada a “desvitalização”. É importante frisar que nas últimas décadas tem-se assistido a uma revolução biomecânica no que diz respeito aos tratamentos endodônticos.
Esta revolução dotou os Médicos Dentistas de novas opções de tratamento nunca antes disponíveis. O desenvolvimento de limas (utensílios de preparação dos canais radiculares) em níquel-titânio acompanhadas pelo desenvolvimento de aparelhos eletrónicos, e a incorporação da microscopia e de instrumentos microcirúrgicos, criaram um novo paradigma na Endodontia. Estes avanços colocam esta área na vanguarda do tratamento conservador, permitindo a manutenção do dente em boca com um prognóstico muito mais favorável.
Conclusão
Uma intervenção médico-dentária precoce neste tipo de lesões é de vital importância para evitar complicações mais graves como manifestações sistémicas. A ausência de tratamento ou o seu insucesso pode conduzir, em última instância, a uma septicémia, verificando-se uma disseminação de microrganismos através do sistema linfático e arterial. Embora raras, estas situações são graves, podendo inclusivamente levar à hospitalização do doente.
Uma boa higiene oral e consultas regulares de Medicina Dentária são elementos-chave para evitar a formação de abcessos ou uma progressão desfavorável do quadro clínico.