É do conhecimento geral que as crianças ficam mais vezes doentes na altura do inverno, sendo que muitos pais temem o primeiro ano em que as crianças entram pela primeira vez na escola.
Mas porque é que as crianças ficam mais vezes doentes no inverno?
Na verdade, o frio não “enfraquece” o sistema imunitário, mas influencia indiretamente a suscetibilidade às infeções. Por um lado, muitos vírus propagam-se mais facilmente e “sobrevivem” melhor no tempo frio; por outro, no inverno as crianças passam mais tempo em espaços fechados e com pouca ventilação, o que facilita a transmissão de vírus de uma criança para a outra.
Quais são as doenças mais frequentes no Inverno, nas crianças?
Podemos dividir em dois grandes grupos – o primeiro são as infeções respiratórias:
- gripe – causada pelo vírus influenza;
- nasofaringites / “constipações” – causadas por vírus (Rinovirus, coronavírus, adenovírus, parainfluenza, enterovirus) (existem mais de 200 vírus conhecidos que podem causar infeção das vias respiratórias superiores!);
- bronquiolite aguda – nas crianças com menos de 2 anos de idade, causada pelo VSR;
- amigdalite aguda – a maioria de causa vírica ( aproximadamente 20% são causadas por bactérias – existe um teste rápido que as permite diferenciar);
- otite média aguda – muitas vezes na sequência de constipações;
- pneumonia – vírica ou bacteriana.
Como segundo grande grupo, temos as outras infeções (“não respiratórias):
- gastroenterite aguda vírica – causada por rotavírus, norovirus ou outros vírus;
- varicela – causada pelo vírus varicela-zoster;
- enterovirus – como por exemplo o vírus coxsackie, que causa a “doença mão-pé-boca”.
Como se transmitem os virus nas crianças?
Os vírus transmitem-se sobretudo através das gotículas respiratórias, que produzimos quando tossimos ou espirramos. Também se transmitem através do contacto direto com saliva ou muco. O contacto com objetos contaminadas, como os brinquedos e as superfícies, podem também ser uma forma de contrair vírus.
Assim, andar descalço, apanhar correntes de ar, ou as diferenças de temperatura não causam doenças infeciosas e não são responsáveis pelas crianças ficarem doentes!
Então como podemos reduzir o risco de transmissão?
Devemos, desde cedo, ensinar as crianças a lavar as mãos corretamente, e ensinar “etiqueta respiratória”( como usar os lenços de papel e tossir para o cotovelo); e manter um ambiente limpo – limpar as superfícies, garantir a ventilação e arejamento dos espaços interiores, e ausência de fumo de tabaco.
Todos queremos que o sistema imunitário das nossas crianças esteja a 100%, e uma questão muito frequente nas consultas de pediatria é “Como melhorar o sistema imunitário?”. Podemos ficar tranquilos pois sabemos que as crianças saudáveis, sem patologia crónica, terão um sistema imunitário também saudável. No caso de uma criança com doença crónica, como a asma, o acompanhamento individualizado pelo seu médico é fundamental, e uma consulta de avaliação nesta altura do ano é sempre recomendada.
Em relação às crianças no geral, como podemos “potenciar” o sistema imunitário?
Existem vários pilares fundamentais:
1. Alimentação equilibrada – alimentos ricos em vitamina C, D, zinco são essenciais para um sistema imunitário saudável – frutas, vegetais, grãos integrais, etc.
2. Hidratação adequada – ajuda a manter as mucosas “saudáveis”, que são a primeira linha de defesa contra os microorganismos que causam doenças. Abaixo pode ver as recomendações de ingestão hídrica, aproximadamente, por idade:
- Até aos 6 meses – 150 mL/kg/dia (leite)
- Dos 6 aos 12 meses – 800 mL a 1L/dia (inclui leite)
- 1 aos 3 anos – 1 L/dia
- 4 aos 8 anos – 1,2 L/dia
- 9 aos 13 anos – 1.6 a 1.8 L/dia
- 14 aos 18 anos – 1.8 a 2.2 L/dia
As necessidades de água aumentam se existir atividade física mais intensa, ou em caso de doença que curse com febre ou diarreia.
3. Sono adequado – deitar cedo e dormir as horas recomendadas por idade:
- 1 aos 12meses – 12 a 16h/24 horas
- 1 aos 2 anos – 11 a 14h/24 horas
- 3 aos 5 anos – 10 a 12h/24 horas
- 6 aos 12 anos – 9 a 12h por noite
4. Atividade física regular – brincar ao ar livre sempre que possível, assim como a prática de desporto (pelo menos 1 hora por dia de atividade física)
5. Imunizações/vacinas
- todas as crianças: Plano Nacional de Vacinação – as vacinas protegem contra vários vírus e bactérias
- Vacina contra o Pneumococo (bactéria que causa pneumonia) 20-valente – fale com o seu médico para avaliar a possibilidade de realização desta vacina
- Em determinados grupos de risco: vacinas da Gripe / vacina COVID / Imunização contra o VSR (que provoca as bronquiolites). Fale com o seu pediatra ou médico de família para avaliar a necessidade de fazer estas vacinas
6. Suplementos vitamínicos: Vitamina D – pode estar recomendada a sua toma durante o inverno; outras vitaminas – avaliar caso a caso com o seu médico;
7. Lisados polibacterianos (Broncho-Vaxom, Lantigen B…) – prevenção das infeções bacterianas como otite e amigdalite; e “estimulantes do sistema imunitário” – sem evidência cientifica para utilização universal, avaliar caso a caso.
Uma consulta com o pediatra do seu filho, antes de iniciar o inverno, é fundamental para se avaliarem todas estas questões e maximizar a saúde das nossas crianças.