A epilepsia é uma doença neurológica em que existe uma maior propensão à recorrência de crises epiléticas. Na verdade, podia dizer-se que é mais uma condição clínica, pois existem inúmeros tipos de epilepsia com apresentações e prognósticos muito diferentes.
Nas crianças, é uma das causas mais frequentes de doença crónica; o seu cérebro imaturo torna-as mais sensíveis ao surgimento de crises.
As manifestações clínicas são muito variadas e nem sempre é fácil fazermos o diagnóstico, sobretudo nos recém-nascidos, em que as crises podem ser muito subtis. Nas crianças mais velhas, as crises podem ocorrer com ou sem perda de consciência, desde aquelas que mais habitualmente associamos à epilepsia com atividade motora excessiva (o “estrebuchar”), ou outros movimentos involuntários de vários tipos, até só com sintomas emocionais, cognitivos ou sensoriais.
No entanto, ter uma crise epilética não é sinónimo de epilepsia e uma boa parte das crianças observadas por episódios anormais não têm essa doença. É por isso importante a observação por médico com experiência em doenças neurológicas pediátricas que irá perguntar cada detalhe da história e pedir vídeos que possa ter em sua posse. Posteriormente, poderão ser pedidos exames complementares para ajudar a determinar o diagnóstico e a causa, que na maior parte das vezes passa por realizar Electroencefalograma (EEG) e Ressonância Magnética cerebral.
Algumas epilepsias são “idade-dependentes”, como é o caso das epilepsias autolimitadas da infância, as mais comuns e com excelente prognóstico no que respeita à remissão das crises. É possível manter uma vida dentro do normal, inclusive é incentivada a participação em desportos como o atletismo, desportos em equipa, futebol, basquete, rugby, vólei, desportos de raquete, desportos de contacto (judo). Claro que há desportos mais seguros do que outros e há alguns que não aconselhamos pelo alto risco que pode decorrer para o próprio ou para terceiros, como escalada, paraquedismo ou mergulho em profundidade.
A percentagem de epilepsias com prognóstico menos favorável é bem menor, estas não são tão bem controladas com medicação antiepilética, têm crises refratárias ao tratamento e serão as que terão mais dificuldades no dia-a-dia com necessidade de adaptação de estratégias.
Ainda assim, a epilepsia não é só crises e existem comorbilidades associadas a que devemos estar atentos, como dificuldades de aprendizagem e impacto psicológico.
Com o tratamento adequado, apoio emocional e estratégias educacionais apropriadas, a maior parte das crianças com epilepsia consegue superar os desafios e ter um desenvolvimento saudável e bem-sucedido.