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O que é a Polimialgia Reumática e qual o papel do Reumatologista?

publicado em 12 Set. 2023

A Polimialgia Reumática é uma doença reumática inflamatória relativamente comum que afeta predominantemente pessoas com mais de 50 anos de idade, sendo mais prevalente em mulheres.

 

Os doentes afetados queixam-se sobretudo de dor e rigidez intensas referidas à região dos ombros, cervical e ancas, que se instala de modo relativamente rápido e causa grande incapacidade funcional na realização de tarefas simples no dia-a-dia (como elevar os braços no ar, vestir a roupa, calçar os sapatos), com a rigidez predominando de manhã ao acordar. Por vezes pode surgir dor e edema (“inchaço”) nas articulações das mãos e punhos e também sintomas constitucionais como anorexia, perda ponderal, fadiga e febre.

 

Cerca de 15% dos doentes com Polimialgia Reumática podem desenvolver uma patologia acompanhante, a Arterite de Células Gigantes, manifestada por cefaleia, hipersensibilidade no couro cabeludo, dor referida à mandíbula com dificuldade na mastigação e perda visual súbita. Uma vez que o tratamento não atempado desta condição pode conduzir à perda irreversível de visão, é importante o diagnóstico e tratamento atempados e a correta educação do doente para sinais/sintomas de alerta.

 

Não existe nenhuma análise, exame de imagem ou outro meio complementar de diagnóstico que permita, por si só, fazer o diagnóstico de Polimialgia Reumática. O diagnóstico desta doença é feito reunindo dados clínicos (sintomas de dor e rigidez das cinturas escapular e pélvica e avaliação objetiva pelo Reumatologista), laboratoriais (elevação dos parâmetros inflamatórios e anemia discreta) e, por vezes, ecográficos (determinadas alterações ecográficas podem ser sugestivas, quando a suspeita persiste e não há alterações analíticas). Quando surgem sintomas de Arterite de Células Gigantes acompanhantes, poderá ser necessária a realização de biópsia da artéria temporal.

 

O tratamento adequado desta patologia consiste em corticoterapia com dose de prednisolona igual ou inferior a 15 mg/d ou equivalente com posterior desmame gradual da dose. Se o diagnóstico estiver correto é expectável uma melhoria dramática dos sintomas ao fim de alguns dias de tratamento, sendo que a ausência de melhoria deve fazer suspeitar da presença de um diagnóstico alternativo. À medida que se vai reduzindo a dose de corticoide, pode haver recidiva dos sintomas, podendo ser necessário voltar a subir a dose de tratamento. Se ao fim de alguns meses não for possível diminuir o corticoide para uma dose baixa, o Reumatologista poderá associar outro medicamento no sentido de diminuir a dose de corticoide, como o Metotrexato. Já o tratamento da Arterite de Celulas Gigantes necessita de uma estratégia terapêutica mais agressiva, com recurso a doses mais elevadas de corticoterapia.

 

Geralmente, o tratamento dura entre 18 a 24 meses, embora em alguns casos possa ser necessário mais ou menos tempo. Durante este tempo os doentes estarão sujeitos aos efeitos dos corticoides, pelo que é importante a adoção de estratégias preventivas de modo a minimizar o aparecimento das complicações relacionadas com esta terapêutica, incluindo exercício físico e dieta rica em cálcio e exposição solar ou suplementação com cálcio e vitamina D para prevenção de osteoporose. No caso de se prever a utilização prolongada e em doses altas de corticoides, pode ser necessária a associação de fármacos anti-osteoporóticos. Poderá ainda ser necessário o ajuste da medicação anti-diabética ou o seu início em alguns doentes.

 

O papel do Reumatologista nesta patologia é realizar o correto diagnóstico da patologia perante sinais e sintomas sugestivos, iniciar e monitorizar o tratamento da PMR, minimizar os efeitos laterais da corticoterapia a longo prazo e educar o doente para a presença de sintomas sugestivos de ACG, os quais carecem de avaliação e tratamento urgente sob a pena de perda visual irreversível.