Não raras vezes, as Doenças Reumáticas (DR) são associadas ao avanço da idade e vulgarmente designadas como “reumatismo”. Na verdade, a palavra “reumatismo”, tão comummente usada, esconde mais de uma centena de doenças diferentes, articulares e/ou orgânicas, muitas delas com início em idade jovem, com carácter crónico e evolução potencialmente grave.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, os reumatismos e as doenças musculosqueléticas, representam cerca de metade da prevalência de doenças crónicas em pessoas com idade acima dos 50 anos estando associadas a um elevado nível de incapacidade funcional e laboral, com fortes repercussões socioeconómicas. Corroborando esses dados, o estudo EpiReumaPt, o maior estudo epidemiológico sobre os reumatismos no nosso país, revelou que 56% da população portuguesa apresenta, pelo menos, um reumatismo e/ou doença musculosquelética, que estas patologias são as que mais influenciam a qualidade de vida, apontando ainda um elevado subdiagnóstico na nossa população.
De uma forma geral, os reumatismos podem dividir-se em:
- Doenças reumáticas crónicas inflamatórias e/ou imunomediadas, como a artrite reumatoide, as espondilartrites (nomeadamente a espondilite anquilosante, a artrite psoriática, a artrite reativa e outras formas de espondilartrite), a gota (artropatia por cristais de acido úrico), as artrites idiopáticas infantis, a polimialgia reumática, as vasculites, o lúpus eritematoso sistémico e outras patologias difusas do tecido conjuntivo (como a esclerose sistémica, a doença de Sjögren, a dermatomiosite, etc.);
- Doenças reumáticas não inflamatórias e/ou imunomediadas, grupo em que se incluem, a título exemplificativo, osteoartrose, a fibromialgia, as tendinites e a osteoporose.
Apesar do seu início em idade jovem ser frequente, os reumatismos são crónicos e, por isso, a sua prevalência aumenta inexoravelmente com o envelhecimento da população. Neste sentido, importa esclarecer que não existe “Reumatismo”, mas um conjunto de patologias distintas entre si, com possível acometimento orgânico (pele, pulmão, rim, olho, gastrointestinal), com diferentes abordagens terapêuticas e diferentes prognósticos.
Além da elevada prevalência dos reumatismos na população portuguesa, importa refletir sobre a pobre qualidade de vida e baixos índices funcionais com que estes doentes lidam quando não tratados/acompanhados adequadamente. Não se trata apenas da dor ou incapacidade para realizar determinada tarefa, mas sim de um conjunto complexo de experiências negativas com impacto na capacidade de gerar receita própria, nas relações interpessoais e, acima de tudo, na saúde com dano muitas vezes irreversível. A própria saúde mental parece ser mais afetada nos doentes com patologia reumática, sendo reportadas taxas superiores de patologias, como ansiedade e depressão, nessas populações.
Nos últimos anos a evolução científica tem permitido o desenvolvimento de fármacos cada vez mais eficazes no tratamento dos reumatismos. Desta forma, torna-se de extrema importância o tratamento adequado e precoce assim como acompanhamento especializado. Em conjunto, estas medidas possibilitam uma melhoria significativa na qualidade de vida, saúde e na capacidade funcional destes doentes.
Como medidas não farmacológicas, a prática de exercício físico e um estilo de vida saudável têm um papel fundamental na melhoria da sintomatologia dos reumatismos com comprovada melhoria dos índices de dor e capacidade funcional.