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Ombro Doloroso no AVC: novas perspetivas de tratamento numa queixa comum

publicado em 29 Out. 2021

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma patologia grave naquilo que é o seu risco de mortalidade mas, também, na complexidade de todas as sequelas que podem acometer o doente que sobrevive ao evento.

 

As mais óbvias são a hemiparésia (défice de força de um lado do corpo) que pode ser acompanhada ou não de alterações da sensibilidade, a espasticidade (alteração do tónus muscular, uma forma de “rigidez”), as alterações da deglutição,
da fala e da linguagem. Estas sequelas são do domínio neurológico, no entanto existem outros sistemas atingidos neste tipo de doentes, nomeadamente o músculo-esquelético. Apesar de menos gravosos, ao nível do seu impacto funcional direto, a dor que deles decorre tem um impacto negativo severo naquilo que é a qualidade de vida destes doentes. Uma das sequelas músculo-esqueléticas mais comum é o Ombro Doloroso do hemiplégico.

 

Caracteriza-se por um quadro de dor ao nível do ombro do hemicorpo afetado pela parésia. O doente apresenta um agravamento, por dor e, por vezes, limitação da mobilidade, da capacidade para as atividades de vida diária que ainda
executa, nomeadamente autocuidados, higiene e vestuário. O cumprimento do seu programa de tratamento fisiátrico, quer seja na fisioterapia ou na terapia ocupacional, também pode ser afetado. Pode, igualmente, existir um franco compromisso da sua qualidade de sono, por dor noturna intensa que não permite que o doente repouse.

 

A causa desta entidade é multifatorial, podendo ter origem na articulação do ombro propriamente dita, na cápsula que envolve a articulação, nos tendões, na musculatura peri-articular pelo aumento de tónus por espasticidade e, em alguns casos, origem neuropática por lesão direta ou indireta das estruturas nervosas que são responsáveis pelos processos de perceção de dor do ombro. Cada uma destas causas tem um tratamento específico, e quanto mais criteriosa for a avaliação do Ombro do Hemiplégico, mais assertivo o diagnóstico e maiores as hipóteses de sucesso com determinado tratamento.

 

Quando a medicação oral ou o tratamento fisiátrico conservador (agentes físicos, fisioterapia, terapia ocupacional) são insuficientes, muitas vezes, avançamos para métodos de intervenção minimamente invasivos para o controlo da
dor, mais uma vez na dependência da causa que identificarmos. Essa especificidade é fundamental na programação do tratamento mais adequado.

 

Quando a causa base é uma capsulite adesiva, a Hidrodistensão capsular ecoguiada é uma excelente forma de tratamento; quando é a espasticidade que domina, a infiltração ecoguiada de Toxina Botulínica nos músculos chave é fundamental; quando o problema envolve igualmente o tendão, pode-se evoluir em técnicas infiltrativas peri-tendinosas ou intra-articulares, sempre com guia de imagem. Quando a abordagem específica não apresenta o benefício expectável, o quadro é assumido como um processo de cronificação da dor, progredindo-se para procedimentos ao nível dos nervos periféricos com responsabilidade na transmissão de dor, através de técnicas de ablação ou neuromodulação por radiofrequência.

 

O recurso a estas técnicas minimamente invasivas define uma evolução inquestionável na prestação de cuidados de saúde ao doente sobrevivente de AVC, sendo uma possibilidade terapêutica de relevo crescente, integrada naquilo que é um programa de reabilitação adequado e individualizado, prescrito e dirigido à otimização funcional, melhoria da qualidade de vida, autonomia e integração destes doentes.