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Ombro, Tendinopatia e Calcificação

publicado em 16 Ago. 2019

Ombro Doloroso é uma das queixas mais comuns relativas ao sistema músculo-esquelético. Da mesma forma que o ombro é considerado a articulação mais complexa do corpo humano, a variabilidade de patologias relacionadas é igualmente complexa, quer no domínio do diagnóstico quer no domínio da estratégia terapêutica.

 

Não obstante, existe uma dominância evidente de patologia ao nível dos tendões do ombro, numa designação comum de tendinopatia. Podemos dizer que cerca de 50% da patologia relacionada com atividade profissional e atividade desportiva decorre de tendinopatia.

 

Do ponto de vista de sintomas, a tendinopatia expressa-se de diferentes formas. No caso de um atleta ou praticante de exercício físico com muita atividade acima do nível da cabeça (voleibol, andebol, cross-fit), ou mesmo um profissional com o mesmo gesto ou posturas mantidas com elevação do braço (repositores de supermercado, operários fabris ou de armazém, cabeleireiras) a tendinopatia mais comum relaciona-se com um quadro inflamatório que decorre de um movimento repetitivo em posturas e amplitudes de muito stress articular e tendinoso, sendo comum o diagnóstico de “tendinite”. Quando o gesto técnico ou profissional é mantido apesar das queixas, esse processo inflamatório continuado pode alterar a própria estrutura e função do tendão, evoluindo a patologia para uma situação mais crónica, a designada “tendinose” ou mesmo uma rotura do tendão.

 

Uma forma mais específica de tendinopatia encontra-se relacionada com o surgimento de calcificações ao nível dos tendões do ombro, sendo que esta Tendinopatia calcificada não tem uma causa tão clara como as supracitadas. Inicialmente era entendida como uma degeneração do tendão por uma atividade repetitiva de stress ao nível do ombro (desportivo ou profissional), mas verificou-se que indivíduos sem qualquer tipo de atividade de risco para o ombro desenvolviam igualmente esta patologia, em graus de severidade igualmente exuberantes. A causa ainda não se encontra perfeitamente esclarecida, mas será provavelmente multifatorial, envolvendo fatores genéticos, endócrinos e de metabolismo celular, em que a produção de compostos normais de colagénio é substituída pela deposição anormal de compostos cálcicos.

 

A avaliação de um ombro doloroso implica um certo grau de especialização na área, para colocar o doente na pista do diagnóstico correto e, acima de tudo, do tratamento adequado.

 

Tal como cada tipo de tendinopatia apresenta as suas especificidades, assim o tratamento também será igualmente específico e adequado à individualidade do doente e da sua patologia, podendo evoluir de opções mais conservadoras a menos conservadoras, de acordo com o tipo de patologia, o timing em que se apresenta, a severidade dos sintomas e o risco de agravamento.

 

Felizmente o conhecimento médico e evolução científico-técnica nesta área tem sido grande nos últimos anos, sendo que neste momento encontram-se ao nosso dispor opções minimamente invasivas de imenso valor no tratamento da tendinopatia, permitindo rápida e eficiente resolução de sintomas ou patologia, que de outra forma necessitam de vários meses de abordagem, muitas vezes sem apresentarem os resultados mais satisfatórios.

 

Dentro das intervenções minimamente invasivas ao nosso dispor, as que têm vindo a demonstrar resultados mais promissores são a Barbotage e lavagem de calcificações na Tendinopatia Cálcica, Injeção ecoguiada da bursa nas “Tendinites”, a Aplicação ecoguiada de fatores de crescimento e/ou ácido hialurónico nos focos de rotura parcial do tendão, a Hidrodistensão capsular no ombro congelado e os Bloqueios de nervo periférico nos quadros de Dor Crónica do ombro. Todos estes procedimentos são não-cirúrgicos, guiados por imagem de forma a proporcionar segurança, assertividade e eficiência, rápidos e sem necessidade de cuidados de maior no pós-intervenção.