Existe uma relação entre o percurso profissional/identidade vocacional e a percepção de se sentir amado e quem comprova é a Teoria da Vinculação e Teoria da Aceitação/Rejeição Parental.
Por um lado…
O que é ser-se amado? É, em geral, as necessidades de afeto, sobrevivência e segurança serem atendidas. É receber afeto e atenção, ser-se aceite, compreendido e encorajado, receber proteção quando necessário. Também podemos dizer o que contribuiu para não nos sentirmos amados e aceites: hostilidade e agressão (física ou verbal), indiferença e negligência, e rejeição.
Por outro…
O que intervém no processo de escolha vocacional? Sobretudo a exploração, compromisso e decisão vocacionais, que contribuem para a formação da identidade vocacional, ou seja, termos consciência do que faz mais sentido fazermos a nível profissional, tendo em conta a nossa personalidade, valores, interesses, aptidões e experiências prévias de vida, considerando o contexto social e político em que vivemos.
De que forma a relação estabelecida com os pais interfere na maneira como nos comportamos e sentimos?
A perceção do relacionamento que os filhos têm dos seus pais é o ponto de partida para o desenvolvimento da ideia que os filhos fazem sobre si próprios, crenças e expectativas face à interação com os diversos contextos de vida, as quais tenderão a generalizar-se e a influenciar novas e futuras experiências de vida.
Estabelecer um vínculo seguro com os pais, promove o comportamento autodeterminado, ou seja, a motivação, que por sua vez é caracterizada pelos níveis de autonomia, competência e relacionamento/pertença/aceitação.
Como é que a relação entre filh@s e pais contribui para aumentar os níveis de exploração, compromisso e decisão vocacionais?
Quanto menos amados/aceites os filhos se sentem, menos comportamentos de exploração e compromisso vocacionais têm, o que os levará a uma indecisão vocacional ou a uma decisão vocacional menos bem informada, pois não explorou nem se comprometeu suficientemente. Explorar significa, entre outras coisas, questionar e experimentar diversos papéis sociais (ou seja, a procura e pesquisa de alternativas), enquanto o compromisso refere-se à opção do aluno face às oportunidades do contexto e às preferências pessoais de âmbito profissional. Este processo vai dar sentido às experiências passadas e permitir projetar no futuro a sua identidade.
Isto é especialmente verdade nas transições escolares, que são percebidas pelos filhos como situações ameaçadoras, sendo que o sentimento de segurança está relacionado com a decisão de carreira/vocacional.
Na prática, os pais podem contribuir da seguinte forma:
- Falar com os seus filhos sobre assuntos de carreira
- Dar suporte, encorajamento e orientação
- Dar afeto e estar disponível
- Ver a família como um recurso de ajuda à tomada de decisão, assim como um local seguro para explorar alternativas, e ainda como recurso disponível para a ultrapassagem de situações difíceis ou de stresse
- Proporcionar atividades extracurriculares, conjuntas ou não
- Distanciar-se ou ter sentido crítico sobre as suas crenças ao nível dos estudos e do mundo do trabalho
- Promover a autonomia
Os pais não têm de saber dar todas as respostas, mas o espaço para o diálogo e discussão construtivos, onde o filho apresentará, além de possíveis questões, receios, crenças, (falsas) expetativas face aos estudos futuros e mercado de trabalho, poderá ser um bom ponto de partida para se explorar facetas da sua identidade, até então desconhecidas.
A relação que estabelecemos com os nossos cuidadores primários (na maioria das vezes, os pais), tem implicações a múltiplos níveis do nosso desenvolvimento psicológico (comportamento, competências sociais, sucesso escolar, autoconfiança, autoestima, autonomia, qualidade das relações futuras, etc).
Se precisar de ajuda especializada, estudos comprovam a eficácia da orientação vocacional e de carreira: existe maior exploração, compromisso e tomada de decisão após a intervenção psicológica vocacional, se compararmos com alunos sem orientação vocacional.