O que é um Quisto Aracnoideu?
Os quistos aracnoideus são lesões não-neoplásicas intracranianas (cabeça) ou espinhais (coluna) que parecem sacos cheios de líquido (líquido cefalorraquidiano ou vulgarmente chamado líquor) revestidos por uma fina membrana de aracnóide, uma das três membranas que cobrem o cérebro e a medula espinhal, localizados entre esta e as estruturas em questão.
Na sua maioria, os quistos são considerados primários pois resultam de anomalias/malformações do desenvolvimento do cérebro e/ou da medula espinhal durante as primeiras semanas de gestação.
Muito raramente podem desenvolver-se em consequência de traumatismos cranioencefálicos, hematomas, meningite (infeções), tumores, ou como complicação de cirurgia cerebral, designando-se de secundários.
Os homens têm quatro vezes maior probabilidade de ter quistos aracnoideus do que as mulheres.
Como são normalmente diagnosticados?
A maioria dos quistos aracnoideus são pequenos e assintomáticos, sendo diagnosticados incidentalmente, ou seja, quando é pedido um exame de imagem (TC ou RMN) por outra razão.
Apenas 5% dos doentes com quistos aracnoideus apresentam sintomas relacionados com o mesmo e, normalmente, estes surgem antes dos 20 anos de idade (especialmente durante o primeiro ano de vida).
Os sintomas podem resultar do crescimento do quisto, sangramento (espontâneo ou pós-trauma) ou bloqueio da circulação de líquor, desenvolvendo hidrocefalia. Principalmente os quistos de maiores dimensões podem exercer efeito de massa nas estruturas neurovasculares, levando a sintomas neurológicos que variam de acordo com seu tamanho e localização.
Os sintomas típicos de quisto aracnoideu intracraniano incluem:
- Dor de cabeça (o sintoma mais comum – 66% dos casos)
- Náusea e/ou vómitos
- Convulsões
- Distúrbios auditivos e visuais
- Vertigem/Tonturas
- Dificuldades com equilíbrio e caminhada
- Alterações do estado mental/Confusão/Sonolência/Coma
Os quistos aracnoideus espinhais podem pressionar partes da medula espinhal, ou raízes nervosas, causando sintomas como dores nas costas e nos membros (braços ou pernas – tipo ciática) e/ou formigamento ou dormência nos mesmos ou mesmo incontinência urinária/intestinal. Estes sintomas podem ser exacerbados por alterações posturais e por manobra de Valsalva (por exemplo espirrar, esforço a defecar, etc).
Exames complementares de diagnóstico
O diagnóstico geralmente envolve um exame de imagem, começando por uma TC – Tomografia Computorizada (antigamente chamada TAC) do cérebro ou da coluna e posteriormente a Ressonância Magnética, que ajuda a distinguir os quistos aracnoideus de outras lesões quísticas (cheias de líquido).
A maioria dos quistos aracnoideus intracranianos primários localizam-se numa área do crânio conhecida como fossa média (50-60%). Outras localizações, menos frequentes, são o ângulo pontocerebeloso, espaço retrocerebeloso, convexidade, cisterna suprasselar quadrigeminal e magna.
Os quistos espinhais são mais raros. A maioria dos intradurais primários, localizam-se atrás da medula e, em 80% ocorrem em localização torácica, 15% cervical apenas 5% em na coluna lombar. Os secundários podem estar localizados em qualquer lugar, dependendo do local de impacto.
Tratamento
A maioria dos quistos aracnoideus são estáveis e não requerem tratamento. A necessidade de tratamento depende principalmente da localização e do tamanho do quisto. Se o quisto for pequeno, assintomático e se não exercer compressão nas estruturas circundantes, a maioria dos médicos decidirá não o tratar e apenas vigiá-lo de forma periódica.
A necessitar de tratamento será sempre cirúrgico e poderá passar por algo menos invasivo, como uma endoscopia intracraniana para drenagem / fenestração do quisto para outras estruturas de drenagem de líquido cefalorraquidiano; ou, nas situações em que houve sangramento concomitante e/ou recidiva da lesão ou nas situações em que a endoscopia não é possível de realizar, poderá ser necessária uma cirurgia craniana aberta para drenagem e remoção das membranas do quisto.
Nos casos em que é necessária uma craniotomia o doente é admitido em unidade de cuidados intensivos no pós-operatório imediato para monitorização e vigilância apertada. Correndo tudo bem será transferido para enfermaria ao fim de 1-2 dias. Nos casos de recidiva pode equacionar-se a implantação de um shunt quisto-peritoneal (dreno que liga o quisto ao espaço peritoneal no abdómen onde o líquido é naturalmente absorvido). Esta é uma alternativa de último recurso dado os riscos associados de infeção do material e/ou disfunção.
A cirurgia espinhal é normalmente aberta e deve ser verificado e encerrada qualquer comunicação/defeito aracnoideu para evitar uma fistula de líquido cefalorraquiano e as suas complicações.
O que fazer quando diagnosticado com um Quisto Aracnoideu?
O ideal quando é feito este diagnóstico pela primeira vez é ser observado e aconselhado por um Especialista em Neurocirurgia:
- Se for um achado/incidentaloma num exame feito por outra razão e se não tem sintomas associados, pode ser agendada uma consulta não urgente;
- Se tiver sintomas agudos de hipertensão intracraniana (pressão aumentada na cabeça), como dores de cabeça que não passam com medicação analgésica, constantes e associadas a náuseas e/ou vómitos ou alterações do estado de consciência – deve ser observado rapidamente num serviço de urgência com apoio da Neurocirurgia.
- Se sintomas de hipertensão intracraniana crónica – com alterações de visão ou da marcha e confusão/esquecimento ou outro tipo de queixas referidas na secção SINTOMAS, deve agendar uma consulta urgente de Neurocirurgia.
Bibliografia
- Mustansir F, Bashir S, Darbar A (April 10, 2018) Management of Arachnoid Cysts: A Comprehensive Review. Cureus 10(4): e2458. DOI 10.7759/cureus.2458
- https://www.ninds.nih.gov/health-information/disorders/arachnoid-cysts
- https://radiopaedia.org/articles/spinal-arachnoid-cyst
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