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Doença coronária

publicado em 26 Abr. 2019

Em Portugal, a principal causa de morte e invalidez são as doenças cardiovasculares. Entre estas, destaca-se a arteriosclerose, que consiste na obstrução gradual das artérias por acumulação de gorduras e outros produtos nas paredes arteriais. As artérias coronárias são os vasos responsáveis por levar sangue ao coração. À medida que estas artérias vão ficando obstruídas, o coração vai recebendo menos oxigénio e os nutrientes de que precisa para trabalhar. Dessa forma, vão surgindo sintomas como a dor no peito (a chamada angina) ou a falta de ar, durante os esforços físicos. Mais tarde, à medida que a obstrução se torna mais grave, ocorre o enfarte do miocárdio e suas complicações, como a morte súbita e a insuficiência cardíaca. A arteriosclerose é uma doença sistémica, que afeta todas as artérias do nosso corpo, não se localiza apenas nas artérias do coração. Por isso, quem sofreu um enfarte do miocárdio tem também, provavelmente, as suas artérias cerebrais com algum grau de obstrução e está em risco de ter um AVC. Do mesmo modo, quem sofreu um AVC, por uma obstrução de uma artéria cerebral, está em risco aumentado de sofrer um enfarte do miocárdio.

 

A grande questão que se coloca é qual a razão das nossas artérias irem obstruindo gradualmente, com arteriosclerose, ao longo das nossas vidas?

 

Como é lógico, cada caso tem as suas particularidades, mas podemos compreender as regras genéricas que se aplicam sempre. Qualquer doença é o resultado de causas hereditárias e/ou ambientais. Em algumas patologias, existe preponderância de uma só causa, como um gene herdado dos nossos pais (neste caso uma doença predominantemente hereditária) ou então pode ser consequência de um fator ambiental como um traumatismo. Contudo, no caso da arteriosclerose, existe uma interação complexa entre causas hereditárias e ambientais. Trata-se de uma doença multifatorial, em que cada causa contribui um pouco, mas o resultado final depende de muito fatores. Desde logo, centenas de genes influenciam o nosso risco de doenças cardiovasculares. Por isso, na consulta, questionamos sobre os antecedentes familiares, que é uma forma de perceber quais as tendências de doença dentro da respetiva família. Dos fatores ambientais, os mais importantes são a alimentação, o exercício físico, o tabagismo e os fatores emocionais como a ansiedade e a depressão. No caso da arteriosclerose, os fatores ambientais têm habitualmente um peso mais importante do que a predisposição hereditária. No fundo, aquilo que acontece é um desencontro entre os nossos genes ancestrais e o nosso estilo de vida moderno. Nas últimas dezenas de milhares de anos os nossos genes mudaram muito pouco. Por isso, o nosso corpo vem programado para viver num ambiente de escassez alimentar, muito exercício físico e sem as novas agressões dos tempos modernos como o fumo do tabaco ou outros poluentes ambientais. Enquanto os nossos antepassados tinham de percorrer muitos quilómetros para arranjar uma pequena quantidade de comida, o homem moderno, que é geneticamente igual, utiliza a tecnologia para se deslocar e tem acesso imediato a comida processada pela indústria alimentar, rica em calorias e gorduras. Acrescentamos a esta equação esse veneno que é o tabaco e o stress crónico em que o homem moderno vive e o resultado final é a arteriosclerose. Felizmente, estes fatores ambientais modernos são modificáveis.