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Quando as varizes voltam a aparecer

publicado em 22 Dez. 2019

As varizes são uma das mais frequentes e problemáticas patologias vasculares, pelo que se observa um número crescente de intervenções cirúrgicas por ano em Portugal. O seu tratamento já demonstrou em diversos estudos estar associado a uma melhoria significativa, não só da estética da perna como também da qualidade de vida global e risco de trombose venosa associada (ref 1). Sendo a doença venosa uma patologia com evolução crónica, é espectável que após a cirurgia um número significativo de pessoas desenvolva de novo a doença.

 

O primeiro passo na avaliação do doente com recorrência de varizes é perceber a causa subjacente da mesma. Existem quatro grupos a identificar: doença incorretamente tratada no passado; neovascularização de áreas previamente intervencionadas; evolução natural da doença; origem da patologia no sistema venoso pélvico.

 

A causa pode ser multifatorial, havendo um contributo variável de diversos dos fatores supracitados. A correta caracterização da recidiva de varizes é apenas possível com realização de um exame físico cuidadoso, seguido da execução de um ecodoppler venoso detalhado e minucioso. Este exame deve ser realizado por um Cirurgião Vascular com experiencia em ecografia, capaz de focar a investigação na procura da causa subjacente para a recorrência das varizes.

 

Após correta caracterização da doença, é necessário escolher o melhor tratamento disponível.

 

Esta decisão deve ser individualizada para cada situação, tendo por base a anatomia das varizes e o risco clínico do doente. Temos atualmente disponível um conjunto diversificado de abordagens, que vão desde o tratamento endovascular por laser, radiofrequência ou espuma, até à extração de varizes por micro-incisões. Dada a maior complexidade anatómica da patologia em pessoas com recidiva, é muitas vezes benéfica a associação de diferentes metodologias no mesmo tempo cirúrgico, com vista a tratar de forma eficaz a origem da doença.

 

Todos estes métodos primam por ser minimamente invasivos, podendo ser realizados em regime de ambulatório (sem necessidade de internamento), com rápido retorno às atividades da vida diária. A ideia disseminada da necessidade de períodos prolongados de repouso, com o membro coberto de ligaduras e o desenvolvimento de extensos hematomas após a cirurgia de varizes é errada e totalmente descontextualizada com as atuais técnicas envolvidas no seu tratamento.

 

A recidiva de varizes tem por isso tratamento eficaz, minimamente invasivo e com rápida recuperação após a cirurgia. Para uma abordagem bem-sucedida é essencial uma meticulosa caracterização por ecodoppler, seguida de uma escolha individualizada dos métodos cirúrgicos a integrar no seu tratamento.

 

Ref 1 – Vascular training does matter in the outcomes of saphenous high ligation and stripping. Castro-Ferreira R, et al. J Vasc Surg Venous Lymphat Disord. 2019 Sep;7(5):732-738.