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Anda a “passear um papo”?

publicado em 28 Dez. 2021

Manifestando-se como uma tumefação (aumento de volume de uma célula tecido, órgão ou parte do corpo) algures na região ventral, a patologia herniária da parede abdominal é frequente na população geral. Faz-se sentir com mais frequência em doentes com determinadas características, como aqueles com excesso de peso e/ou tosse crónica. Outros fatores que se relacionam com a perda de qualidade dos tecidos, como o tabagismo e o envelhecimento, também são, entre outros, favorecedores conhecidos da doença herniária. O esforço físico, com picos abruptos de pressão intra-abdominal, como acontece em várias atividades profissionais, propicia o aparecimento de sintomas.

 

Podendo ser primária – própria do doente, sem que lhe tenha sido imposta nenhuma agressão – ou secundária – decorrente de uma intervenção, por regra cirúrgica, deve ser feito investimento na prevenção das últimas, através do cumprimento de preceitos técnicos, do controlo de fatores de risco modificáveis, da profilaxia da infeção do local cirúrgico e, quando adequado, do recurso a técnicas cirúrgicas minimamente invasivas.

 

Por muito exímio que seja o gesto cirúrgico, contudo, um doente obeso, com doença respiratória crónica, de idade avançada, será sempre um forte candidato a vir a desenvolver uma hérnia – é inerente às intervenções cirúrgicas no abdómen o risco de herniação incisional.

 

Nem sempre sintomáticas, as hérnias mais comuns podem incomodar esteticamente, causar desconforto ou dor, condicionar a função intestinal, encarcerar ou estrangular. As mais complicadas traduzem-se em falência generalizada da função de contenção abdominal.

 

O seu tratamento programado, com atenção à redução do risco de recidiva, acarreta maior probabilidade de sucesso e menor risco de complicações que as intervenções em contexto agudo, urgente, perante uma complicação já instalada. O uso de material protésico, que faz a ponte entre tecido são onde se perdeu tecido, é atualmente a regra, reservando-se as correções “simples” (sem prótese) às hérnias mais pequenas, em doentes sem fatores de risco evidentes. Ao invés, viver com uma hérnia, sem a expectativa de a intervir, pode ser uma atitude inteligente e adequada – a decisão de o fazer, no entanto, devendo ser apoiada numa abrangente avaliação médica e de um parecer técnico fundamentado.

 

As considerações acima descritas aplicam-se ao que já sabemos tratar-se de uma hérnia. Existem vários diagnósticos diferenciais para tumefações abdominais, nem todos eles benignos. Se “anda a passear um papo”, se nunca o mostrou a um médico, se não tiver esclarecido cabalmente de que se trata: é boa ideia fazê-lo agora e não depois.