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Pânico: uma viagem interna não desejada e inesperada

publicado em 13 Ago. 2020

Todos nós, em algum momento da vida, já sentimos o coração a bater rapidamente, a respiração mais difícil de controlar e as mãos a tremer.

 

Um acontecimento perfeitamente normal e natural, se decorrer antes de um encontro amoroso, de uma entrevista de emprego ou de um exame. Sintomas que aparecem quando há um acontecimento que é importante para nós e que é possível prever.

 

Mas afinal o que é um Ataque de Pânico?
Quem já passou por um, ou por mais do que um, certamente se identificará com a descrição que farei. Para quem já sentiu qualquer coisa “estranha” e que não sabe bem explicar, poderá, finalmente, descobrir o nome daquilo de que de muitas pessoas sofrem.

 

Ter um Ataque de Pânico assemelha-se a uma viagem numa montanha russa, sem que a pessoa a queira fazer. É inesperada e imprevisível.

 

Quando existem vários Ataques de Pânico num curto espaço de tempo falamos de Perturbação de Pânico (como se fosse um acumular dessas viagens terroríficas).

 

O Pânico tem características peculiares. Ele não faz cerimónias, vem sem avisar, e prega-nos partidas em qualquer sítio. Naturalmente, ficamos com medo de que ele volte de novo e, por isso, tendemos a evitar sítios onde já nos veio visitar. Ele pode ser matutino, vespertino e até nos pode acordar a meio da noite. É veloz e inesperado. É como se fosse um botão que se liga a todos os sistemas do corpo humano. O coração bate a 1000 à hora. A respiração fica difícil de controlar, pelo oxigénio a mais que inalamos para conseguir sobreviver à viagem.

 

Podemos ficar com calores ou calafrios e o pensamento pode ficar pouco claro e com a sensação de que não vamos sobreviver. Também podemos sentir que estamos fora de nós, um fenómeno que se chama despersonalização.

 

Esta viagem demora, em média, uns 10 minutos, mas na nossa perceção é inacabável. Começa a acelerar gradualmente, até que atinge um pico máximo de intensidade e pensamos que não vai desacelerar. Mas vai. Os episódios têm um fim e disso não podemos esquecer.

 

O Pânico também gosta de exibir publicamente, por isso, aparece em locais públicos e de difícil acesso de saída (em centros comerciais, no trabalho, ou em locais em que haja multidões). É aquilo a que nós chamos de Agorofobia.

 

Depois desta viagem involuntária e indesejada sentimos que nos passou um “camião por cima”, é uma espécie de “ressaca” emocional.

 

Esta viagem pode ser tão assustadora que pensamos poder ter um problema cardíaco ou pulmonar, ou até que podemos morrer e, por isso, dirigimo-nos a um Serviço de Urgência. Saímos do Hospital com um diagnóstico de crise de ansiedade ou Ataque de Pânico. Relativamente ao diagnóstico, pode surgir um sentimento dúbio: por um lado, ficamos tranquilos por não termos tido um problema coronário, por outro, sentimos uma certa angústia e descredibilização. Quanto ao sentimento de morrer, a boa notícia é que não existem registos na literatura de que alguém tenha morrido por esta causa.

 

O Pânico deixa sempre a dúvida sobre se vamos ter mais uma ficha de graça para andarmos novamente na montanha russa. Aqui surge o medo do medo. O medo de voltarmos a ter mais um Ataque de Pânico. Os Psicólogos e os Psiquiatras são, por excelência, os profissionais que podem ajudar com estratégias para que esta viagem se torne menos intensa, que apareça menos vezes e a perceber a origem e as causas do seu surgimento. Por vezes é necessário um antagonista da gasolina que o alimenta. Nós também ajudamos os acompanhantes de viagem a saber ser copilotos e o que fazer num Ataque de Pânico.

 

A pandemia que vivemos pode precipitar este problema e dar gasolina a quem já o tem. Tendemos a adiar o sofrimento psíquico, pensando que “vai passar”. Porquê? Em caso de Pânico há uma saída? sim, e um profissional de saúde mental pode ajudar.