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Comportamentos Autolesivos: Crianças e Jovens no Limite

publicado em 22 Jan. 2020

Os comportamentos autolesivos são comportamentos intencionais que consistem em causar dano ao próprio corpo e que geralmente estão relacionados com dificuldades de regulação emocional. Estes comportamentos são vistos de forma diferente por diversos grupos e culturas na nossa sociedade e têm ganho popularidade nos últimos anos, sobretudo entre os adolescentes.

 

As causas e a gravidade destes comportamentos podem variar bastante. Algumas das suas formas mais comuns são cortar ou arranhar partes do corpo, marcar, puxar a pele e pelos, bem como queimar/causar abrasões, morder ou bater.

 

Alguns adolescentes podem ter este tipo de comportamentos para procurar sentir riscos e testar limites, como forma de rejeitar alguns valores dos adultos e marcar a sua individualidade ou, eventualmente, para se sentirem aceites. Outros podem autoflagelar-se por sentimentos de desespero, raiva ou como chamada de atenção para a sua dor emocional, desesperança ou sentimento de menos-valia. Em alguns jovens estão presentes também pensamentos sobre a morte e o suicídio.

 

Os comportamentos autolesivos são, portanto, sintomas bastante complexos e com diversos fatores associados. Adolescentes que tenham dificuldade em falar sobre os seus sentimentos podem sentir uma grande tensão emocional, desconforto físico, dor ou até reforçar uma baixa autoestima quando realizam estas lesões.

 

Apesar de alguns jovens referirem sentir como se o “vapor da panela de pressão” fosse libertado após o ato, outros podem sentir-se magoados, assustados, com raiva ou com ódio. Os efeitos da pressão por colegas e de “contágio” também podem influenciar o surgimento destes comportamentos. Apesar das “modas” geralmente serem passageiras, estes comportamentos podem tornar-se repetitivos e duradouros, e a maioria das lesões cutâneas irão tornar-se permanentes. Para além disso, muitos dos jovens tendem a esconder estes comportamentos e as cicatrizes, marcas ou queimaduras associadas, muitas vezes com receio do embaraço, da rejeição e das críticas que poderão surgir.

 

Estes jovens podem estar a atravessar dificuldades na área da saúde mental e apresentar problemas como Perturbações de Ansiedade, Depressão ou outras Perturbações do Humor, Psicoses ou Perturbações relacionadas com o Trauma.

 

Crianças que apresentem atrasos no seu desenvolvimento e/ou Perturbações do Espetro do Autismo, bem como crianças vítimas de maus-tratos e negligência ou com dificuldades na família também podem apresentar comportamentos com este padrão. Para além disso, alguns adolescentes com este tipo de comportamentos podem desenvolver perturbações de personalidade em adultos. Daí que a sua identificação e abordagem atempada e eficaz seja extremamente importante para delinear um plano de tratamento adequado a cada caso e prevenir a sua evolução negativa.

 

Qualquer que seja o quadro clínico subjacente, este tipo de comportamentos em crianças e adolescentes deve sempre ser encarado de forma muito séria e merece uma avaliação especializada imediata em consulta de Pedopsiquiatria.