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Perturbação de Hiperatividade e/ou Défice de Atenção: da infância à idade adulta

publicado em 06 Ago. 2024

De todas as patologias do Neurodesenvolvimento, a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) (depois das Perturbações de Espectro do Autismo) é aquela que mais informação e desinformação apresenta disponível para os pais, os profissionais e a sociedade. Apesar de a patologia ser bastante antiga, hoje em dia os número são cada vez maiores e há quem defenda que se deva a múltiplos fatores, tais como:

  • estarmos numa sociedade mais permissiva;
  • estilo de vida mais agitado;
  • excesso e uso indevido das novas tecnologias, etc.

No entanto, mais importante do que saber o porquê de se ter PHDA é saber como solucionar o problema e diminuir o impacto que os sintomas apresentam na vida das pessoas.

 

A PHDA é reconhecida como a perturbação do neurodesenvolvimento com prevalência mais elevada quer a nível mundial, como a nível nacional (Portugal). Sabemos que cerca de 8 a 12% das crianças têm o diagnóstico de PHDA sendo que 5 a 10% recebem o diagnóstico na idade escolar e, sendo esta uma patologia de neurodesenvolvimento, prolonga-se ao longo da vida da pessoa. Desta forma, também sabemos que 2,5% dos adultos apresentam esse mesmo diagnóstico.

 

Ainda assim, a sua expressão varia de acordo com os sexos, nas diversas faixas etárias. As pessoas do sexo masculino são mais propensas a diagnósticos caracterizados pela hiperatividade e impulsividade, enquanto que as pessoas do sexo feminino apresentam sintomas relacionados com a desatenção. Tal, dificulta o diagnóstico nas idades mais precoces, e torna mais propenso o diagnóstico em idades tardias. Não raras vezes, o conhecimento sobre esta psicopatologias apenas surge quando se procura a ajuda para outras condições (ex.,
ansiedade e/ou depressão).

 

Tipicamente, a PHDA pode ser apresentada de acordo com uma tríade de sintomas principais:

  1. Desatenção;
  2. Hiperatividade;
  3. Impulsividade.

A Desatenção caracteriza-se por:

  • Dificuldade em manter a atenção em diversas atividades;
  • Perda a detalhes, erros por descuido;
  • Dificuldade em planear, iniciar e organizar tarefas, seguir instruções e terminar trabalhos (escolares, laborais, domésticos, pessoais) ou recordar-se (ex., esquecer compromissos e datas importantes);
  • Evitar ou adiar o envolvimento em tarefas que exijam esforço mental sustentado;
  • Distrair-se, com pensamentos ou objetos do ambiente, quando outra pessoa fala;
  • Frequentemente perde coisas.

 

A Hiperatividade e a Impulsividade manifestam-se das seguintes formas:

  • Sentir-se inquieto ou dificuldade em esperar pela sua vez;
  • Correr e subir inapropriadamente;
  • Dificuldade em participar e brincar tranquilamente;
  • Mexer ou bater com as mãos, pés, entre outros pequenos movimentos repetitivos;
  • Dificuldade em permanecer no lugar por um longo período de tempo;
  • Falar excessivamente, interromper as outras pessoas e completar frases.

 

É importante compreender que a expressividade dos sintomas varia de acordo com a idade. Dado que é uma disfunção que se mantém ao longo da vida, por vezes a mesma parece inexistente porque por vezes quando chegamos à idade adulta a PHDA evolui para outras sintomatologias, bem como o aparecimento das comorbilidades podem sobrepor-se ao diagnóstico de PHDA. Pelo que a expressão da PHDA toma as seguintes proporções:

  1. Bebé: torna-se insaciável, facilmente irritável e é com dificuldade que se consegue acalmá-lo. Tem dificuldades em dormir e na alimentação.
  2. Primeira infância: Fica irritado, agitado e inquieto. É desobediente e dificilmente fica satisfeito com qualquer coisa.
  3. Criança: distrai-se muito facilmente, não conseguindo concentrar-se. É muito impulsivo, podendo envolver-se em brigas. Pode ou não surgir hiperatividade.
  4. Adolescente: Problemas de memória e concentração. Dificuldade em pensar e fazer planos a longo prazo. Inquieto e impulsivo.
  5. Adulto: Impaciente, inquieto, hiperativo, falta de concentração, distrai-se facilmente, ansioso, etc. Muitos adultos têm dificuldades em manter relacionamentos uma vez que facilmente perdem o interesse na pessoa com quem se encontram.

 

À semelhança das outras psicopatologias, o diagnóstico de PHDA surge quando à condição se associam limitações e implicações desfavoráveis ao quotidiano ou objetivos de vida da pessoa, com os sintomas presentes antes dos 12 anos de idade. As dificuldades têm de se apresentar em dois ou mais ambientes da vida da pessoa. Como se trata de uma perturbação do neurodesenvolvimento, a avaliação psicológica e neuropsicológica, quer na infância, adolescência e idade adulta são condições essenciais para uma compreensão completa destas disfuncionalidades.

 

Assim, aquando da procura de ajuda profissional, as/os psicólogas/os utilizam diversos recursos para a avaliação e, consequentemente, para o plano de tratamento. Existem diversas modalidades na intervenção para a PHDA: psicofarmacológica, intervenção terapêutica e psicossocial. No entanto, é a terapia cognitivo-comportamental o modelo terapêutico mais utilizado na intervenção com crianças, jovens e adultos, com o intuito da mudança de cognições e adaptação de comportamentos. Paralelamente, e quando considerado pertinente, outras intervenções podem ser consideradas no âmbito do trabalho psicológico.

 

Na consulta de psicologia pretende-se dotar as pessoas de conhecimento sobre a origem e a manutenção dos problemas. O trabalho desenvolve-se pelo treino e adoção de estratégias adaptativas para enfrentar as dificuldades de vida diárias.