A depressão é a doença que mais contribui para as mortes por suicídio, que chegam a quase 800 mil por ano. No nosso país estima-se que afete cerca de 10% dos portugueses e tudo indica que, por influência da pandemia e da consequente crise económico-financeira, a sua prevalência e impacto tenham aumentado.
A Depressão é mais do que estar triste ou aborrecido durante uns dias. A Depressão é mais duradoura e pode afetar negativamente o nosso dia-a-dia e a nossa capacidade de funcionar, sendo que esta pode ser experienciada de forma diferente em cada pessoa. Pode ser compreendida como uma doença, cujo diagnóstico corresponde a um conjunto de alterações ao nível do humor, pensamentos, emoções/sentimentos e comportamentos que dura, pelo menos, algumas semanas.
A depressão pode apresentar diferentes formas e graus de gravidade e os seus sintomas podem prolongar-se no tempo, podendo incluir:
- Sentimentos de tristeza e aborrecimento;
- Sensações de irritabilidade, tensão ou agitação;
- Sensações de aflição, preocupação, receios infundados e insegurança;
- Diminuição da energia, fadiga e lentidão;
- Perda de interesse e prazer nas atividades diárias;
- Alterações ao nível do sono e do desejo sexual;
- Alterações do apetite e peso;
- Sentimentos de culpa e de autodesvalorização;
- Alterações no campo da concentração, memória e raciocínio;
- Impactos físicos não devidos a outra doença (dores de cabeça e musculares, perturbações digestivas, dor crónica, mal-estar geral);
- Ideias de morte e tentativas de suicídio.
Causas da Depressão
De um modo geral, a Depressão tende a emergir de uma combinação de vários fatores, mais precisamente: genéticos, aspetos do funcionamento do cérebro, a forma como interpretamos a informação e as nossas circunstâncias de vida.
As suas causas são complexas e relacionam-se com acontecimentos e circunstâncias de vida (presentes e passadas), bem como com o significado que as pessoas lhes atribuem e a forma como lhes respondem.
No entanto, a Depressão também pode não estar associada a algo determinável, ou seja, pode parecer que “apareceu do nada” e sentirmos que não temos uma causa que o justifique.
O que podemos fazer para lidar com a Depressão?
Primeiramente, é fundamental reconhecer que estamos em sofrimento e que precisamos de ajuda. Inegavelmente, não é um processo simples, por diversos motivos, pois temos a tendência de continuar a “sobreviver. Para além disso, podemos ter vergonha e sentir que procurar ajuda é sinal de “fraqueza”. No entanto, ao procurar ajuda dará o passo mais importante para ultrapassar a Depressão.
O principal tratamento para a depressão consiste na intervenção psicoterapêutica. Em conjunto com um Psicólogo/a podemos desenvolver competências que nos ajudarão a lidar com os nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos, contribuindo para algumas modificações naquilo que pode estar a causar-nos maiores dificuldades e procurando encontrar soluções. A intervenção psicológica poderá também ser conjugada com tratamento farmacológico. De facto, a medicação pode ser muito útil para algumas pessoas e nalgumas situações (por exemplo, em casos de Depressão moderada/grave e duradoura).
Nas Depressões Refratárias/Resistentes e que anteriormente não se obtiveram grandes resultados, existem outras técnicas que permitem contribuir para a melhoria do estado psicológico do doente, como por exemplo a Eletroconvulsivoterapia (ECT). Aprovada quando ocorre a falência dos tratamentos convencionais, apresentando uma eficácia superior à terapêutica farmacológica. Como o nome indica, consiste na aplicação de uma corrente elétrica no crânio com o objetivo de provocar uma convulsão terapêutica.
É um procedimento realizado sob anestesia geral, seja em internamento ou em ambulatório, sempre com acompanhamento de uma equipa multidisciplinar. Um típico tratamento de ECT é composto por 6 a 12 sessões, realizadas 2 ou 3 vezes por semana. Se necessário, a este tratamento agudo, podem seguir-se sessões de manutenção, com frequência cada vez mais espaçada. Os efeitos clínicos geralmente são observados a partir da 5ª sessão.
Na depressão, com a totalidade dos tratamentos, é esperada melhoria do humor, regularização dos ritmos biológicos, aumento da mobilidade e funcionalidade, e redução da carga de medicação. Assim, é um tratamento eficaz que não deve ser esquecido no cuidado dos doentes mais graves.
Concomitantemente ao que foi referido, as ações de autocuidado são centrais e podem ajudar-nos a ser mais resilientes e a lidar melhor com aquilo que conduziu ao estado depressivo. Por exemplo, desenvolver e manter relações significativas, garantir que adotamos uma alimentação saudável, assegurar que temos um sono reparador, realizar atividade física regularmente, conversar sobre sentimentos e emoções e dedicar tempo a atividades de lazer é essencial para o nosso bem-estar e saúde psicológica.
Reforçar a relação com família e amigos poderá ser mais um elemento chave para vencer a depressão, ter o apoio dos outros, partilhar algo com quem confia, pode ajudar-nos a sentir melhor.
Por último, é importante reforçar que num quadro patológico onde a desesperança tende a emergir, deverá adotar um olhar diferenciador, pautado pela esperança, pois o/a psicólogo/a e/ou psiquiatra detêm diversas estratégias/técnicas que o/a poderão ajudar a alcançar a mudança e consequentemente promover um aumento da sensação de bem-estar e equilíbrio biopsicossocial.
