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Fora da vista, fora da mente?

publicado em 17 Jan. 2024

Os psiquiatras não só falam de doentes e doenças, mas falam, principalmente, de vida, do não sofrimento, de como voltar a ser feliz. Feliz como um dia sonhamos ser. E é pela felicidade que procuramos a consulta de psiquiatria.

 

Há muito tempo, ainda quando estudava, a psiquiatria sofria de preconceito, ir ao psiquiatra era como ser “louco”, “tolinho”, dizem muitos. Ainda bem que os tempos mudaram, que hoje sabemos que a psiquiatria não é uma especialidade para “tolinhos”, a psiquiatria é uma especialidade para a gente, para a vida, para melhorar a qualidade da nossa vida.

 

Todos nós vivemos sob pressão neste mundo competitivo, exigente e de tantas expectativas sobre o viver com sucesso. Não se pode errar. É preciso acertar sempre. Não se pode perder. É preciso ganhar sempre. Este ritmo de vida impõe um pedido tão severo que se inicia um processo de conflito interior entre quem sou e o que pensam de mim, o que quero e o que querem de mim. Gera um processo insidioso de angústia, ansiedade, medo, inquietação.

 

Ao pensar sobre a necessidade de corresponder ao sucesso ultrapassamos os nossos limites, nos excedemos e caminhamos para o desconhecimento de nós mesmos ao ponto de nos enfrentarmos com a pergunta: Quem sou eu? Sou capaz? Não sou. Sou belo? Não sou? Amam-me? Não me amam? E ao fim e ao cabo tudo que queremos é sermos amados e neste momento de dúvida adoecemos. Não somos capazes de dizer não e nos esforçamos e esforçamos até que já não suportamos mais e adoecemos.

 

Entristecemos, ficamos confusos, perdemos a força, a vontade, deixamos de dormir.

 

Vamos ao nosso médico de família, fazemos análises e estamos “bem” e perguntamos: O que tenho? O Médico de família diz: vai ao psiquiatra.

 

A última porta para a resposta e lá está ela.

 

Costumo falar aos meus doentes: a saúde mental assenta-se em três corpos: o corpo biológico que abriga um órgão complexo que é o cérebro, o corpo social que diz respeito a tudo que está a nossa volta – família, trabalho, amigos, a guerra, enfim tudo que não somos nós; e o equilíbrio finaliza com o corpo psíquico que é aquele que não se sabe, mas é aquele que existe à partir da conversa entre o corpo biológico  e o corpo social e que aparece como sendo o nosso jeito de ser e pensar.

 

Enfim, ir ao psiquiatra é começar a tratar o seu corpo biológico, equilibrar o seu corpo social e saber mais sobre seu corpo psíquico. É para toda a gente.

 

Apesar de o ditado popular dizer: “o que os olhos não veem, o coração não sente”, não conseguimos manter tudo longe do nosso olhar e sentiremos sempre e o sentir dói. Não se apalpa, mas sente-se.