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Glaucoma: novas abordagens terapêuticas

publicado em 02 Mar. 2021

O glaucoma é uma doença que afeta o nervo ótico, levando à perda progressiva do campo visual e, em fases avançadas, à cegueira. Constitui a segunda maior causa de perda visual a nível mundial, após a catarata, e a principal causa de perda irreversível da visão, estimando-se que existam atualmente cerca de 76 milhões de pessoas com a doença e que este número poderá aumentar para 112 milhões no ano 2040.

 

Na maioria das vezes, a apresentação é assintomática e o doente só nota alguma alteração da visão em fases avançadas da doença. Os danos provocados pelo glaucoma são irreversíveis, é necessária uma vigilância oftalmológica regular para que seja diagnosticado em fases precoces, em que ainda não existam danos significativos.

 

Os fatores de risco para o seu desenvolvimento são o aumento da pressão intraocular (o principal fator e o único sobre o qual é possível intervir), a idade (risco aumenta com o envelhecimento), a história familiar, a miopia e a raça negra, entre outros.

 

Apesar de não existir uma cura para a maioria dos casos de glaucoma, existem diferentes modalidades de tratamento, cujo objetivo é a redução da pressão intraocular, que permitem o controlo da doença e levam à estabilização da visão e dos campos visuais.

 

A abordagem inicial consiste na aplicação de colírios hipotensores ou utilização de laser. Nos casos em que estes tratamentos não são suficientes para a redução da pressão intraocular, ou no caso de intolerância aos colírios pelo aparecimento de efeitos laterais locais e sistémicos, está indicada a abordagem cirúrgica. As cirurgias de glaucoma clássicas (trabeculectomia ou implantação de válvula/tubo de drenagem do humor aquoso) continuam a ser as mais utilizadas e as que permitem maior redução da pressão intraocular. No entanto, estes procedimentos necessitam de uma vigilância pós-operatória muito apertada, pelas potenciais complicações associadas, e têm um tempo de recuperação significativo.

 

Assim, nos últimos anos têm surgido novas técnicas cirúrgicas que permitem tratar de forma eficaz e com maior segurança a maioria dos doentes. São exemplos destas técnicas a esclerectomia profunda e a canaloplastia, considerados procedimentos não penetrantes (sem penetração no espaço intraocular). Permitem alcançar reduções significativas da pressão intraocular, evitando a maioria das complicações das cirurgias clássicas e com um tempo de recuperação mais rápido. Mais recentemente, foram desenvolvidos diferentes dispositivos e procedimentos, globalmente denominados MIGS (Minimally Invasive Glaucoma Surgery – cirurgia de glaucoma minimamente invasiva), que se destacam pelo seu perfil de segurança. São um conjunto de técnicas que permitem menor manipulação dos tecidos oculares, pelo que a duração da cirurgia é menor e a recuperação pós-operatória muito rápida. De forma geral, têm menor capacidade de redução da pressão intraocular e são recomendados para glaucomas moderados. Apesar disto, devido ao ótimo perfil de segurança, permitem a utilização de uma opção cirúrgica de forma mais precoce em detrimento da continuação da medicação tópica e dos seus potenciais problemas de tolerância.

 

Em conclusão, o glaucoma é uma doença assintomática nas fases iniciais e que provoca danos irreversíveis na visão. Apesar de atualmente existir uma grande diversidade de medicamentos e procedimentos cirúrgicos que permitem o controlo da doença, a deteção precoce é fundamental.