Sentada no consultório, Joana não conseguia disfarçar o nervosismo. Enquanto a médica olhava para o computador, recordava o dia em que recebeu a carta do Rastreio do Cancro do Colo do Útero e soube que tinha HPV. Entre infinitas pesquisas na Internet e conversas com os pares, hoje Joana encontrava-se mais confusa e com mais receio do que há seis meses. Quando a médica lhe perguntou se tinha alguma dúvida, Joana desenrolou um papel e colocou-o na secretária.
A folha apresentava as seguintes questões?
O que é o HPV?
O HPV é o Vírus do Papiloma Humano, existem mais de 200 subtipos, sendo classificados em baixo risco, e em alto risco. Os subtipos, de alto risco, 16 e 18 estão na origem de 70% dos casos de cancro do colo do útero.
Como se transmite o HPV?
A sua transmissão é sexual e estima-se que mais de 80% dos indivíduos sexualmente ativos são infetados, em algum momento da sua vida.
Que problemas causa?
Pode causar lesões a nível anogenital (colo do útero, vulva, vagina, ânus e pénis) e orofaringe – condilomas, lesões de alto e baixo grau e cancro invasor.
Ter infeção por HPV significa que vou ter um cancro?
A infeção por HPV é muito frequente, no entanto ter um teste HPV positivo não significa que exista lesão do colo do útero ou um cancro. A maioria das infeções por HPV são transitórias e assintomáticas.
O cancro do colo do útero é muito frequente?
Em Portugal, é o terceiro cancro mais comum entre mulheres com idades entre os 15 e 44 anos.
O HPV vai desaparecer?
Em mais de 85% dos casos o HPV vai negativar nos primeiros 2 anos.
Como posso prevenir a infeção?
A prevenção primária é feita pela vacinação em ambos os sexos antes do início da atividade sexual de preferência entre os 9-13 anos.
A prevenção secundária é feita pela realização do rastreio do cancro do colo do útero.
O preservativo no caso do HPV não dá uma proteção de 100%, mas permite uma proteção superior a 80%.
O que posso fazer para tratar o HPV?
Não existe tratamento com um antivírico, mas uma alimentação saudável, exercício físico, sessação tabágica, tratamento das infeções ginecológicas ajuda o nosso sistema imunitário a combater a infeção.
Atualmente existe medicação tópica em forma de gel, spray ou comprimido vaginal que melhora o microbioma vaginal, o ph vaginal e promove a re-epitelização do colo do útero ajudando à eliminação do HPV.
No final Joana já com a porta entreaberta, olhou para a médica e timidamente perguntou:
– Foi o meu parceiro que me infetou?
– Não sabemos. Pode já ter a infeção há muito tempo e não saber. O HPV consegue estar inativo durantes vários anos e, entretanto, reativar. – respondeu a médica.
– E como vai ficar agora a nossa vida sexual? – perguntou a Joana
– Se tem uma relação fechada não tem de tomar precauções adicionais. O seu companheiro já contatou com o vírus e os homens raramente manifestam a doença.
É importante perceber que muitas mulheres vão esta infetadas, mas apenas em 10% dos casos a infeção vai persistir e apenas 1% das mulheres vão ter lesões de alto grau. Destes casos só 0.1% vai chegar a cancro invasor. A importância de vigiar mulheres com HPV está no fato do HPV estar presente em mais de 95% dos casos o cancro do colo do útero, mas a maioria das mulheres que tem HPV não vão ter nem Lesões de Alto Grau nem cancro.
Assim Joana saiu mais tranquila.