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Artrite Reumatoide: o papel do reumatologista no seu tratamento

publicado em 20 Abr. 2021

Desde a antiguidade que a Artrite Reumatoide suscitou um grande interesse, não só pela sua forma de apresentação clínica, mas sobretudo pela sua evolução natural, levando não incomummente à destruição articular e consequente incapacidade funcional nas atividades de vida diárias por parte do doente.

 

Tal ameaça à qualidade de vida do doente levou a que o médico Reumatologista, nas últimas décadas, assumisse como uma das suas maiores prioridades o estudo dos seus múltiplos mecanismos de lesão subjacentes para a poder interromper de forma dirigida aos seus maiores eixos desencadeantes e perpetuadores da doença.

 

Em boa verdade, a Artrite Reumatoide é 3 vezes mais prevalente em doentes do sexo feminino, com pico de incidência entre os 50 e 60 anos, e afeta aproximadamente cerca de 1% da população europeia adulta.

 

Assume-se como uma doença inflamatória crónica multifatorial, que tipicamente atinge as pequenas e médias articulações. O quadro clínico carateriza- se essencialmente por tumefação e dor articular de ritmo inflamatório (pior com o repouso, nas primeiras horas da madrugada, melhora com o movimento ao longo do dia), acompanhado de uma rigidez matinal superior a 30 minutos.

 

De grosso modo, a lesão primária, chamada ‘sinovite’, mais não é do que uma invasão de células inflamatórias do nosso sistema imunológico perante um tecido relativamente acelular (membranas sinoviais), estrutura que reveste as cartilagens das articulações. Ora, perante o ingurgitar desse próprio tecido, este torna-se hiperplástico e a adquirir propriedades invasoras, levando à destruição da cartilagem articular, erosões ósseas e consequente perda da viabilidade funcional dessa articulação.

 

Embora o foco articular seja tipicamente o primeiro a ser visado, sabido é que se trata de uma doença multissistémica, em que exemplos de outros órgãos e sistemas, como o respiratório, cardiovascular ou hematológico, podem ocorrer (prova disso, o risco aumentado de aterosclerose ou, em raros casos, a associação com desenvolvimento de linfoma). Consequentemente, em casos não controlados, estima-se uma redução da esperança média de vida de cerca de 7 anos.

 

Nas últimas duas décadas, os estudos científicos em larga escala amplificaram exponencialmente a compreensão, não só dos fatores de risco e de prognóstico para a doença, mas também o desenvolvimento de um conjunto de soluções terapêuticas dirigidas (em particular, os fármacos biotecnológicos) capazes de modificar o curso natural da doença.

 

De facto, os estudos científicos vieram demonstrar como essencial um diagnóstico precoce e introdução precoce de fármacos modificadores no primeiro ano de manifestação da doença (preferencialmente nos primeiros 3 meses). Assim, compete ao doente, aquando do surgimento dos primeiros sintomas, validados muitas vezes pelo seu Médico de Família, procurar uma avaliação pela especialidade de Reumatologia, para que seja feita uma adequada gestão do controlo da doença.