Skip to main content

Trauma Psicológico: opções de tratamento

publicado em 21 Ago. 2023

Grande parte das pessoas define trauma como uma experiência subjetiva, negativa e intensa, com um impacto emocional significativo.

 

É certo que a maioria das pessoas é resiliente. No entanto, é também verdade que algumas pessoas com vivências traumáticas podem desenvolver perturbações da saúde mental.

Exemplos de acontecimentos que se podem revelar traumáticos:

  • Agressão física (ex., história de maus-tratos na infância ou assalto violento)
  • Violência sexual (ex., violação ou contacto sexual abusivo)
  • Acidentes graves (ex., acidente de viação)
  • Tortura
  • Suicídio
  • Desastre de causa natural ou humana
  • Ataque terrorista
  • Guerra (como combatente ou civil)

 

Com efeito, estes são acontecimentos marcantes que geralmente definem um antes e um depois na vida do doente, de tal maneira que são critério essencial (critério: exposição) para um conjunto de perturbações designadas Perturbações Relacionadas com Trauma.

 

Destas, a mais popular é a Perturbação de Stress Pós-Traumático, conhecida sobretudo pelas siglas na língua inglesa: PTSD (Post-Traumatic Stress Disorder).

 

A memória traumática é o centro do diagnóstico e ao redor da qual se compreende a sintomatologia.

 

De modo genérico, a PTSD tem os seguintes critérios de diagnóstico:

  • Exposição a ferimento grave, ameaça de morte, morte efetiva ou violência sexual (diretamente, como testemunha ou tomando conhecimento que ocorreu a familiares ou amigos próximos);
  • Sintomas intrusivos (ex., imagens intrusivas; pesadelos; flashbacks);
  • Evitamento (ex., de memórias, pessoas, lugares, conversas, atividades, objetos ou situações associadas ao que aconteceu);
  • Alterações negativas nas cognições e no humor (ex., crenças negativas sobre o próprio, os outros ou o mundo como, por exemplo, “sou má pessoa”, “não se pode confiar em ninguém”, “o mundo é perigoso”; sensação de desligamento em relação aos outros; não conseguir ter emoções positivas);
  • Alterações da ativação e reatividade (ex., comportamento irritável ou acessos de raiva; hipervigilância; problemas do sono).

 

Dentro da psicotraumatologia, as recomendações para tratamento de primeira linha são terapias baseadas em evidências: práticas que integram a melhor investigação disponível e a experiência clínica, no contexto das caraterísticas, preferências e cultura do doente.

 

As terapias que ocupam os lugares de topo destas recomendações são terapias centradas no trauma, isto é, intervenções que, de uma forma ou de outra, vão abordar o que aconteceu, isto é, o trauma – seja em alternativa ou em conjunto com medicação.

Principais terapias centradas no trauma

  • Terapia de Exposição Prolongada (Prolonged Exposed Therapy): ensina a abordar gradualmente o evitamento das memórias, sentimentos e situações relacionadas com o trauma, bem como a aprender que isso não é perigoso;
  • Terapia de Processamento Cognitivo (Cognitive Processing Therapy): ajuda a desafiar e modificar crenças desajustadas associadas ao trauma;
  • EMDR – Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares (Eye Movement Desensitization and Reprocessing): reprocessa a memória traumática, pedindo ao doente para se concentrar nessa mesma memória enquanto move os olhos seguindo os dedos do terapeuta.

 

Um aspeto interessante em torno destas três terapias é que, na comparação entre elas, aparentam ter uma eficácia equivalente. Por outras palavras, nenhuma parece ser mais ou menos eficaz do que as outras. Além disso, os resultados são duradouros, por conseguinte, com mudanças positivas não só nos sintomas como também na qualidade de vida das pessoas.

 

Assim, é possível recuperar de uma experiência traumática.

 

Recentemente, estão a emergir alguns formatos bastante promissores destas terapias:

  • Por exemplo, sugerindo em vez de uma consulta por semana, consultas todos os dias durante duas semanas.
  • Por exemplo, protocolos abreviados, com menor número de sessões para conseguir reduzir a sintomatologia ou a remissão do diagnóstico.
  • Por exemplo, com as sessões online.

 

De resto, incluem a possibilidade de conjugar diferentes formatos (ex., sessões diárias, baseadas num protocolo abreviado, a decorrerem online).

Em resumo, alguns acontecimentos podem revelar-se traumáticos, pelo que, podem dar azo ao desenvolvimento de perturbações relacionadas com trauma; as recomendações para tratamento de primeira linha são terapias baseadas em evidências, em particular terapias centradas no trauma, que aparentam ter uma eficácia equivalente e resultados duradouros, portanto, com mudanças positivas nos sintomas e na qualidade de vida das pessoas.