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Alimentar o doente com demência avançada: um desafio para o cuidador

publicado em 06 Abr. 2022

No âmbito do Dia Mundial da Saúde (7 de abril), o doente idoso merece um lugar de relevo. Em Portugal, quase 25% da população é idosa e somos o quarto país da OCDE com maior prevalência de demência. Nos casos de doentes com demência avançada – uma situação terminal – a dificuldade na alimentação é comum e oferece desafios a quem deles cuida.

 

É importante desmistificar esta situação. Estes doentes não parecem ter muita fome e comem pouco. O maior desconforto é a sede, mas um aporte oral mínimo (com recurso a hidratação fracionada, cubos de gelo e bons cuidados orais com hidratação da boca) pode bastar para dar conforto. São casos que podem ser geridos com calma e tempo pelos cuidadores.

 

Existem algumas estratégias que podem usar para conseguir um aporte nutricional mínimo:

 

  • Otimizar higiene oral (por exemplo, cuidados dentários, como o ajuste da prótese dentária) e modificar a textura dos alimentos;
  • Minimizar o barulho e distrações; fornecer as refeições num ambiente familiar agradável;
  • Respeitar preferências alimentares, hábitos culturais, rotinas e horários não habituais. Refeições pequenas e mais frequentes são preferíveis a refeições pré-definidas ou com horários rígidos;
  • Adotar uma postura vertical sempre que possível (idealmente sentada), com ligeira inclinação do pescoço para a frente. Se o doente estiver em posição deitada, elevar os joelhos. Deve manter-se a posição 20 minutos após a refeição;
  • Dieta sem restrições alimentares; oferecer alimentos com sabores fortes (usando ervas aromáticas, alho, cebola, pimenta e outros condimentos); adaptar a consistência dos alimentos sólidos (por exemplo, triturar os alimentos) e dos líquidos (usando espessante); apresentar alimentos de forma apelativa; variar ou alternar os sabores e temperaturas dos alimentos. Eventualmente ponderar o uso de suplementos alimentares. Pode tentar fortificar-se a dieta com alimentos naturais (azeite, natas, manteiga, ovos, óleo de coco, leite em pó sem lactose, queijo skyr…);
  • Encorajar o doente a deglutir várias vezes; reduzir as quantidades oferecidas de cada vez (inferior a uma colher de chá); alimentar lentamente, esperando que o doente engula toda a comida antes de oferecer mais alimento; encorajar a utilizar talheres ou a colocar a mão sobre a mão do cuidador enquanto o alimenta; parar se o doente não quiser comer ou se apresentar sinais de disfagia (tosse, dificuldade na deglutição); continuar a alimentar se o doente quiser continuar a comer.

 

Todavia, nem sempre é possível resolver estas situações em casa. E não está sozinho! O Grupo Trofa Saúde tem ao seu dispor profissionais que o podem ajudar a lidar com este problema. Pode marcar uma consulta ou dirigir-se ao Serviço de Urgência para que a situação do doente seja avaliada e devidamente corrigida.

Bibliografia:
Pessoa, A. et al, Alimentação na Demência Avançada: Documento de Consenso da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e da Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica; Revista Portuguesa de Medicina Interna, Vol. 27; nº1; jan-mar 2020.