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Asma na criança

publicado em 03 Mai. 2021

A asma é uma doença inflamatória crónica do aparelho respiratório que resulta do estreitamento e obstrução dos brônquios, conduzindo a um aumento da resistência à circulação do ar para os pulmões, sobretudo na expiração. Traduz-se por dificuldade em respirar, provocando ruído (sibilância ou pieira), tosse, sensação de aperto ou dor no peito e cansaço. A tosse ou o cansaço podem ser o único sintoma presente.

 

Os sintomas surgem de forma abrupta ou insidiosa, têm quase sempre um fator desencadeante: infeções víricas, esforço físico, sobretudo se em situações hostis (temperatura, humidade, poluição, tabaco) e alergénios (ácaros, pólenes, fungos, pelos de animais domésticos e alguns alimentos). A impregnação do vestuário e da própria habitação com estes agentes é muitas vezes determinante.

 

Fora das crises, a observação da criança é, na maioria das vezes normal e apenas o relato da sintomatologia permite suspeitar do diagnóstico, isto é, a observação fora das crises não permite invalidar a presença de asma.

 

É uma doença muito comum. Calcula-se que 8,5% das crianças portuguesas sofram de asma. Está subdiagnosticada e em alguns países apontam-se valores de 25%.

 

  • Até aos 3 anos de idade, o diagnóstico é difícil, porque a pieira recorrente é na maioria das vezes provocada pela infeção vírica a nível mais inferior do pulmão. No entanto, na sua recorrência frequente, sobretudo se associada a desencadeantes (alergias alimentares, aparecimento em determinadas circunstâncias, como o contacto com animais ou locais específicos) e a história familiar de asma, a probabilidade de vir a evoluir para uma verdadeira asma é grande.
  • A partir dos 3 anos, a infeção vírica deixa de ser a causa mais importante, sendo a alergia o fator mais significativo. A asma induzida pelo esforço passa também a ser um diagnóstico comum. A criança muitas vezes manifesta apenas tosse e algum cansaço pelo esforço (apenas o riso, choro ou cócegas).

 

Apesar de subdiagnosticada, a asma, doença com elevada mortalidade até 1970, e apesar de a sua prevalência ter aumentado em todo o mundo, deve representar menos de 1% das causas de morte. Esta mortalidade residual ocorre sobretudo no adolescente e adulto jovem, associada ao abandono não controlado da terapêutica. Esta mudança de paradigma tem várias explicações: uma elevada eficácia e segurança dos medicamentos usados hoje em dia, associado à comodidade de administração, uma maior facilidade de diagnóstico e controlo terapêutico (espirometria e o FeNO, que avaliam a resistência e inflamação dos brônquios), uma mais fácil identificação dos alergénios que facilita a sua exclusão da vida da criança e/ou a dessensibilização da mesma aos agentes a que é alérgica (Imunoterapia Específica, vulgarmente conhecida por “vacina”).

 

O tratamento, contínuo e prolongado, deve ser mantido e ajustado com regularidade. A terapêutica das crises deve ser iniciada perante o aparecimento dos primeiros sintomas. Deve estar sempre disponível e ser de fácil utilização e compreensão pelos cuidadores.

 

Uma asma bem controlada é aquela que permite uma qualidade de vida sem restrições e só excecionalmente necessita do recurso a terapêutica de urgência. Hoje, felizmente, um objetivo quase sempre fácil de atingir.