A obesidade é uma doença crónica, progressiva e recidivante.
A adolescência é uma fase de mudança a vários níveis. O adolescente passa por uma transição marcada por alterações físicas, emocionais, sociais e educacionais.
Precisamos de compreender o doente adolescente que vive com obesidade, pois esta doença não afeta apenas a estética do corpo, mas compromete a saúde física (diabetes, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares, entre outras) e mental (ansiedade, depressão, baixa auto-estima, alterações do comportamento alimentar, entre outros). Infelizmente, o estigma associado à obesidade é uma das maiores barreiras ao diagnóstico e acesso ao tratamento desta doença crónica e complexa.
A sociedade, assim como alguns profissionais de saúde, ainda reduzem a obesidade ao simples ato de “falta de força de vontade” e à preguiça. Ignoram tantos outros fatores que sabemos terem um peso preponderante no desenvolvimento e evolução desta doença: ambiente, genética, desequilíbrios hormonais… Este preconceito é particularmente cruel nos nossos adolescentes, que muitas vezes são vítimas de bullying, comentários inapropriados, exclusão e sentimentos de culpa e vergonha. Estes jovens evitam consultas, ginásios e até refeições em público com medo do julgamento, atrasando quer o diagnóstico, quer a procura pelo tratamento.
A cirurgia metabólica na adolescência pode ter um papel de relevo no tratamento da obesidade. Deve ser decidida de ânimo leve? Obviamente que não. Deve ser a primeira linha de tratamento? Também não. Mas não pode ser descartada como tratamento da obesidade com base em estigmas, ideias pré-concebidas e ultrapassadas e muito menos baseadas em mitos e receios. Deve ser avaliada conforme o grau de obesidade do doente jovem e comorbilidades associadas. E sim, deve ser considerada sempre que necessário, baseada na evidência científica, quando os restantes tratamentos falharam..
Precisamos também de estar cientes que, independentemente da forma de tratamento da obesidade decidida para o doente adolescente, o apoio de uma equipa multidisciplinar é fundamental (pediatria, endocrinologia, pedopsiquiatria, psicologia, nutrição e, se for o caso, cirurgia geral). Relembremos que é uma doença crónica e complexa, que requer tratamento e acompanhamento ao longo de toda a vida.
O nosso papel enquanto profissionais de saúde é duplo: combater preconceitos que atrasam o diagnóstico e impedem o tratamento e promover os cuidados necessários para o ganho de saúde com base na evidência científica. É urgente ouvirmos os nossos adolescentes sem julgar, validar as suas experiências e criar espaço para escolhas conscientes e informadas. A obesidade não define ninguém e deve ser centrada na pessoa, não na balança.