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O “olho preguiçoso” e o rastreio visual na infância

publicado em 07 Out. 2020

Celebrando-se o Dia Mundial da Visão no dia 8 deste mês, considero importante apelar à atenção dos leitores para a Saúde Visual na criança.

 

Quando o bebé nasce, as estruturas que compõem o sistema visual (que vão desde o olho a uma região do cérebro denominada córtex cerebral) já existem, mas ainda estão a desenvolver-se. Após o nascimento e durante a infância, ocorre uma fase muito importante do desenvolvimento da visão, mais “intenso” nos primeiros dois anos de vida, estendendo-se até aos 8 -10 anos de idade.

 

Para que o desenvolvimento do sistema visual decorra de forma saudável é fundamental haver estímulos capazes de conduzir a este aperfeiçoamento das vias visuais. A Ambliopia, vulgarmente conhecida como “olho preguiçoso”, carateriza-se por um ou ambos os olhos, de resto normais, apresentar/apresentarem uma visão diminuída secundária a um desenvolvimento anormal dessas vias. Reiterando que os estímulos visuais adequados são imprescindíveis ao normal desenvolvimento da visão, na ambliopia o que acontece é que o estímulo visual é “fraco” e insuficiente. Existem três causas principais para este estímulo ser “fraco” e insuficiente: os erros refrativos, os estrabismos e a obstrução do eixo visual (por exemplo: catarata congénita, ptose palpebral – pálpebra “descaída” – entre outras).

 

Quando a ambliopia acomete apenas um dos olhos, na ausência de um rastreio, o diagnóstico é habitualmente mais tardio por passar muitas vezes despercebido pelos pais e pelas próprias crianças. Nos casos em que ambos os olhos são amblíopes, os sinais da criança levam mais frequentemente os pais à procura de um médico (a aproximação aos objetos, os “tropeções”, o pouco interesse da criança pelo meio envolvente e, mais tarde, problemas na escola de aprendizagem/leitura e “dislexia”).

 

A somar a isto, a deteção precoce da ambliopia é da mais extrema importância, pois existe uma “janela terapêutica”, isto é, um período após o qual o tratamento não é mais possível e a deficiência visual não pode mais ser recuperada. Falamos assim numa janela de oportunidade para agir sobre o problema! É aqui que nascem e se justificam os programas de rastreio visual – um momento fulcral na promoção da Saúde Visual.

 

Existem vários momentos de rastreio visual na infância. Após o nascimento, durante os primeiros meses de vida o Pediatra pesquisa o reflexo do luar róseo e das pupilas à luz. Posteriormente, a avaliação oftalmológica deve ser regular, estando indicada pelo menos uma aos 2 e 4 anos de idade. Na idade escolar este seguimento deve continuar, com especial enfoque nos erros refrativos, que frequentemente comprometem o desempenho escolar quando não devidamente identificados e corrigidos.

 

Além da ambliopia, existem muitas outras condições menos frequentes ou raras cujo diagnóstico atempado é fundamental. São exemplos o glaucoma congénito ou infantil, tumores oculares e doenças neurológicas.

 

Os rastreios devem ainda ser adequados caso a caso atendendo à existência de fatores de risco: história familiar e fatores de risco pessoais, como é o caso da prematuridade.

 

Assim, para o Dia Mundial da Visão uma mensagem: “rastreio visual sempre!”, lembrando que o rastreio visual começa na infância, é essencial e eficaz para a promoção da Saúde Visual quando realizado por profissionais de saúde especializados na área.