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Saúde mental em contexto de pandemia numa sociedade crescentemente narcísica

publicado em 15 Abr. 2021

Segundo a Organização Mundial da Saúde (1), o medo, a preocupação e o stress são respostas normais a ameaças percebidas, ou reais, ou em situações de confronto com o desconhecido. Assim, e tendo em conta o contexto atual de pandemia, a experiência destes sentimentos, mais do que em qualquer outra altura das nossas vidas, é perfeitamente adaptada e compreensível.

 

Para além disso, em adição ao medo e stress crescentes, na população em geral surge ainda necessidade de ajustar as rotinas diárias tendo em conta o incontornável isolamento. Ora, o impacto destes desafios na saúde mental é no mínimo vultoso.

 

Esta conjetura surge numa altura em que a sociedade se desenha cada vez mais narcísica e competitiva: as relações são cada vez menos seguras, confia-se cada vez menos e o ego domina: pensa-se em si e a preocupação com o outro esvanece de forma galopante.

 

Então, como é que, numa sociedade cada vez menos empática e mais individualista, se lida ainda com o stress, medo e ansiedade de estar perante uma situação desconhecida e assustadora? É cada vez mais comum sentir solidão, impotência e angústia – frequentemente em silêncio. Nestas circunstâncias, a procura de ajuda profissional é essencial!

 

No âmbito da saúde mental, uma abordagem psicoterapêutica de modelo breve adaptada às necessidades individuais de cada um, fundada na autoanálise reflexiva e a construção de uma relação de confiança entre doente e terapeuta, baseada na partilha e empatia, é a base para ultrapassar esta fase de incerteza e medo. Esta metodologia psicoterapêutica personalizada e baseada nos recursos de cada um, sobretudo no manancial emocional e autorreflexivo do doente, promove o empowerment e o crescimento individual: tudo o que nos faça crescer é terapêutico, mas para crescer é preciso olhar para dentro.

 

Assim, tal como em qualquer ato de melhoria e/ou tratamento, o empenho e vontade do doente em querer ultrapassar o impasse em que se encontra é sempre a principal arma contra o mal-estar/doença.

 

Por fim, importa realçar que a empatia está na base de um comportamento que nos permite viver em sociedade: o ser humano é um ser de relações. Por isso, para que todos possamos viver em equilíbrio – pessoal e de grupo – é importante que todos consigamos sair da nossa “bolha” e que consigamos colocar-nos no lugar do próximo, para que nos ajudemos uns aos outros, principalmente nesta fase difícil.

 

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” (Carl Jung).

 

(1) Organização Mundial da Saúde. Mental Health: Burden. Retirado de: https://www.who.int/health-topics/mental-health#tab=tab_2