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Prótese Total do Ombro: do mito à realidade

publicado em 05 Fev. 2018

A grande maioria da população desconhece que, curiosamente, a primeira prótese articular metálica alguma vez implantada foi, muito provavelmente, uma prótese do ombro. O procedimento foi realizado em Paris pelo cirurgião Jules-Émile Péan, em 1893, para tratamento de uma artrite tuberculosa do ombro, com colocação de um implante restritivo de platina e borracha.[1]

 

As patologias não traumáticas do ombro são uma causa comum de morbilidade. Entre elas, a artrose do ombro, ocorre em cerca de 7% da população acima de 65 anos. A Prótese Total do Ombro é uma abordagem eficaz para o tratamento de uma variedade de patologias, nomeadamente a osteoartrose, a artrite reumatoide e a osteonecrose da cabeça do úmero, com resultados notáveis e reprodutíveis, no controlo da dor e na melhoria da função mecânica articular.[2]

 

A combinação de roturas massivas dos músculos que compõe a coifa dos rotadores e osteoartrose glenoumeral, podem conduzir a um ombro doloroso e “pseudoparalítico”. Nestas situações específicas, são usadas próteses invertidas do ombro. Este tipo de implante, ao medializar o centro de rotação do ombro e baixar o úmero, relativamente ao acrómio, estabiliza a articulação e minimiza o torque no componente glenoideu, recrutando mais fibras do músculo deltoide anterior e posterior. Cria assim um novo ambiente biomecânico, no qual o músculo deltoide pode funcionar, apesar da falta dos músculos da coifa. Desta feita, a elevação ativa do ombro pode ser restituída em doentes com osteoartrose e rotura massiva da coifa, fraturas complicadas, em casos de revisão cirúrgica de ombros (com coifas dos rotadores deficientes) e até em patologias tumorais, casos onde anteriormente as opções técnicas eram muito limitadas. [3]

 

Na passada década, houve um aumento exponencial no número de artroplastias do ombro realizadas, com tempos médios de sobrevida dos implantes a ultrapassarem os 10 anos. Com abordagens minimamente invasivas, tempos de internamento curtos (1 a 2 dias), seguidos de programas de reabilitação específicos (com fase de mobilização passiva, às 4-6 semanas, mobilização ativa, às 6-12 semanas e de fortalecimento muscular, depois das 12 semanas), possibilitam um regresso precoce à normal atividade diária.
Portanto, um século após a artroplastia de Péan, a investigação biomecânica, as melhorias técnicas do material e design dos implantes e a análise de resultados clínicos obtidos, permitiram aos cirurgiões ortopédicos recriar a normal anatomia e, no caso da prótese invertida, produzir um meio anatómico e biomecânico, capaz de permitir aos doentes uma função quase normal, apesar da existência de patologias que antigamente eram consideradas inoperáveis.

 

O Trofa Saúde Hospital dispõe de uma equipa de profissionais altamente especializada na patologia do ombro. Para um melhor acompanhamento e tratamento, marque a sua consulta e tire as suas dúvidas com os nossos especialistas.

 

Fontes:
1) Sébastien Zilber; Shoulder arthroplasty: historical considerations; Open Orthop J. 2017 Sep 30;11:1100-1107
2) T.M. Gregory et all; Short, medium and long term complications after total anatomical shoulder arthroplasty; Open Orthop J. 2017 Sep 30;11:1133-1141
3) P. Boileu et all; Arthroplasty of the shoulder; J Bone Joint Surg Br. 2006 May;88(5):562-75